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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Unificar oferta em central é aposta para reduzir as filas

"Onde fica o fim da fila?". A pergunta, antes comum nas portas das unidades públicas de saúde no Brasil, assim como no Ceará, foi substituída pela falta de informação de nem saber quantos estão na espera, qual a posição e quanto tempo terá que aguardar para ser atendido ou se ainda terá que ingressar na Justiça para garantir o direito. As filas presenciais acabaram, mas as chamadas virtuais estão longe de resolver a demanda crescente por consulta, exames, cirurgias, acesso aos medicamentos e alimentação especial ou prótese. Mutirões ou corujões, a exemplo de São Paulo, são estratégias utilizadas pela rede para reduzir as imensas fileiras.

Em Fortaleza, a saída é unificar as atuais centrais de regulação do Estado e Município, equacionar recursos e assim melhor gerir e controlar o sistema. "Esse é nosso maior desafio", aponta o coordenador da Central de Regulação das Internações de Fortaleza (Crifor), Mozart Rolim.
Segundo ele, essa unificação já está sendo colocada em prática, modificando o atual sistema, onde cada unidade gerencia sua própria demanda e o que "sobra" é encaminhado à central municipal. "Com a integração, poderemos planejar e otimizar procedimentos, pois atualmente a demanda é muito maior do que a oferta e não podemos resolver se não sabemos do que realmente dispomos", analisa.
Na Capital, informa, contabilizando somente seis especialidades com maior demanda, 40 mil pessoas aguardam sua vez. Ortopedia, com 12 mil; neurologia, oito mil; otorrino, seis mil; oftalmologia, seis mil; Dermatologia, quatro mil; e consulta para cirurgia geral, outros quatro mil. Sem falar nos exames como ultra-transvaginal, com 15 mil pessoas na espera ou abdominal, com 13 mil pacientes.
Questão
Rolim comenta que ações como mutirões ou corujão da saúde, no caso específico de São Paulo, com filas de mais de meio milhão de pessoas, são pontuais e não solucionam o problema. "Elas não levam em consideração que a pessoa, após consulta ou exames, tem o retorno, se vai precisar de cirurgia, medicamentos, outros exames mais apurados e nem acompanha o paciente enquanto ele necessitar da rede", analisa, acrescentando que essas ações serão reavaliadas.
A Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) explica, via Assessoria de Comunicação, que a proposta é reorganizar e otimizar as demandas, inicialmente, da macrorregião de Fortaleza. Atualmente, além das centrais do Estado e Município, o Ceará dispõe de núcleos reguladores nas regiões Norte e Cariri.
Capacidade
A Central de Regulação, destaca, envolve todas as referências intermunicipais de consultas especializadas e exames, internações hospitalares eletivas e ainda de urgência e emergência. Tudo isso por meio do conhecimento da capacidade de oferta de consultas e exames especializados públicos, contratados e conveniados que integram a rede SUS. Atualmente, as principais demandas de cirurgias da macrorregião de Fortaleza que chegam à Central de Regulação são para Ortopedia, cirurgia geral e Urologia.
Na rede pública de saúde estadual, em 2016, foram realizadas 55,9 mil cirurgias eletivas e de urgência e emergência, um crescimento de 7,4% em relação a 2015, quando foram feitos 52 mil procedimentos. O número de exames realizados no ano passado chegou a 7,1 milhões.
Apesar disso, a espera por um exame de eletroneuromiografia - rotineiramente solicitado em casos de hérnias de disco cervical e/ou lombar, para síndrome do túnel do carpo (dedos das mãos que adormecem, principalmente pela madrugada - pode chegar a três anos. É o caso de Antônia Juscelino da Silva. Ela sofre com muitas dores e dormência no braço direito desde 2013 e até para consulta com especialista precisou esperar meses. "O médico me pediu esse exame e não consigo fazer. Meu medo é ficar pior", diz.
A Sesa ressalta que as cirurgias para retirada da hérnia são eletivas, por isso são programáveis e isso gera fila de espera. "O exame de eletroneuromiografia é realizado não só no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) como também no Centro de Dermatologia Sanitária Dona Libânia, ambos da rede pública estadual, e no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), de âmbito federal", informa em nota.
Aguardar indefinidamente nunca é aceitável para quem sofre e precisa acessar os serviços, no entanto, declara a psicóloga Selma Câmara, a fila é necessária em um sistema de saúde. Mas, aponta, precisa haver controle entre a espera e o risco de agravar o problema. "Claro que ela é uma forma democrática de ordenar, organizar, respeitar. A questão é quando isso não é cumprido ou seja, a fila não anda. É imprescindível cumprir o que decreto 7.508, de 2011, estabelece: o acesso ao SUS deve ser feito por ordem cronológica e entendo que isso não quer dizer aglomerar pessoas sem tempo para o atendimento", argumenta.
A especialista em saúde pública Ivanir Ribeiro lembra que, atualmente, durante o atendimento inicial, ao primeiro sinal de doença, o paciente é encaminhado para um médico especialista. Ela defende que muitos casos poderiam ser tratados no primeiro atendimento, nas unidades básicas de saúde ou no Programa Saúde da Família (PSF) e cita como exemplo, a Ortopedia, que tem a maior fila da Capital. "É muita gente. Acredito que cerca de 70% desses casos poderiam ser resolvidos na atenção primária com o acompanhamento de um médico generalista e de um fisioterapeuta", argumenta.
Atendimento
Para ela, doenças crônicas, como hipertensão, normalmente indicadas para acompanhamento especializado, poderiam ficar na rede primária. Apenas os mais graves seriam repassados ao atendimento especializado.
Para evitar a judicialização das demandas da saúde e solucioná-las de forma administrativa, a Sesa firmou parceria com a Defensoria Pública do Estado no ano passado. Foi criado o Núcleo de Atendimento Inicial à Saúde (Nais), em parceria também com a Prefeitura Municipal de Fortaleza. A Secretaria da Saúde do Estado também criou o Núcleo de Avaliação de Tecnologia em Saúde (Nats), em parceria com os Tribunais de Justiça Estadual e Federal. Ambos foram instituídos com a proposta de minimizar as demandas judiciais, melhorando as ofertas de forma administrativa.
O supervisor Mozart Rolim acredita que, com a integração das centrais e dados de todos as unidades de saúde em Fortaleza, aliada ao reforço das Policlínicas, a gestão será mais adequada. "Nos próximos meses esperamos reduzir bastante as filas, principalmente aquelas de maiores demandas", declara.
Depoimentos
Medo, indignação e paciência
Com muitas dores devido a uma hérnia de disco, Antônia aguarda há três anos um exame de eletroneuromiografia, só realizado pela rede pública de saúde no HGF. Com medo de piorar cada vez mais, ela apelou para a Justiça, via Defensoria Pública do Estado.
Antônia Juscelino da Silva
Dona-de-casa
O filho de Alexandra, João Pedro, de 11 anos, tem paralisia cerebral, e há cinco precisa se submeter a uma cirurgia ortopédica, devido a uma luxação no quadril esquerdo. Cansada de ouvir a mesma coisa, a falta de material, ela busca garantir direito pela Justiça.
Alexandra Ribeiro
Trabalhadora autônoma

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