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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Orós chegará a 9,9%, em seis meses, com a transferência

Juazeiro do Norte. Pescadores artesanais, vazanteiros, criadores de animais, piscicultores e membros da Colônia dos Pescadores Quixelô se reúnem, nesta quinta-feira (28), na parede do Açude Orós, em protesto à decisão de transferência de água do reservatório ao Castanhão. Como já era previsto, o Orós, localizado no Centro-Sul do Estado, passou a dar suporte, na semana passada, ao Castanhão para abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A votação aconteceu no último dia 20, na reunião do Comitê de Bacias do Baixo e Médio Jaguaribe

A medida, entretanto, é questionada por alguns membros do Comitê de Bacias Hidrográficas (CBHs) e criticada por moradores e pescadores dos municípios de Quixelô e Orós, que temem prejuízos com a alocação das águas do açude, construído na década de 60. Para Paulo Landim, integrante do Comitê de Bacias, a medida afetará milhares de pessoas. Ele lembra que, em 1993, as águas do Orós já tinham sido alocadas para a capital cearense, também para suprir a falta de água, acarretando dificuldades à comunidade.
"Há 23 anos, houve uma situação semelhante. Naquela época, com a retirada das águas do Orós, o nível caiu para 13%. Neste ano, a estimativa é que desça para 9% ao fim do ciclo de seis meses. É uma situação que nunca presenciamos e não sabemos a gravidade do impacto. O certo é que muitas famílias serão prejudicadas. Só na Colônia de Pescadores, são mais de 1.200 cadastrados, fora as famílias das 12 comunidades que tiram o sustento do açude. Além disso, com o baixo nível do reservatório, após seis meses, a Cagece não conseguirá tratar a água, causando grande risco de desabastecimento na localidade", afirma.
Vazão
Inicialmente, o Orós passa a liberar água em uma vazão média de 11,5m³/s para o Rio Jaguaribe até o Castanhão. Desse total, serão encaminhados 4m³/s até setembro. De setembro a janeiro, a liberação sobe para 16m³/s. Ao fim deste período, a estimativa é que o Orós atinja 9,9% de sua capacidade total, cerca de 3% a menos do pior cenário já verificado no reservatório desde sua construção. Atualmente, o açude mantém pouco mais 32%.
Com a transferência das águas do Orós, o Castanhão, maior açude do País e principal abastecedor da RMF, passa a operar com vazão de 15 m³/s, viabilizando o abastecimento da RMF, via Eixão, além de perenizar 100Km do Rio Jaguaribe. Pelo canal, serão liberados 9,5m³/s. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) espera que um volume de 6,5m³/s chegue até a RMF.
A Cogerh minimiza os questionamentos acerca da transferência de água afirmando não ser um fato novo, uma vez que o Açude Orós, segundo a Companhia, "historicamente contribui para a segurança hídrica do vale do Jaguaribe e complementarmente para RMF". Esta contribuição, acrescenta a Cogerh, foi aliviada com a construção do Açude Castanhão, que desde 2004 tem sido responsável pelo atendimento do Médio e do Baixo Vale do Jaguaribe, além da complementação da RMF.
Ainda conforme a estatal, a partir da construção do Castanhão, o volume acumulado do Orós foi resguardado e, agora, é capaz de contribuir novamente com o Baixo e Médio Vale do Jaguaribe, "e complementarmente com a RMF sem comprometer seus atendimentos locais". Segundo o engenheiro agrônomo, Luiz Paulino Pinho Figueiredo, da Coordenadoria Estadual do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas no Ceará (Dnocs), além de o Orós receber uma maior captação de água (110 mi de m³ contra 68 mi m³ do Castanhão), a demanda é bem menor.
"Hoje, a demanda do Orós está em torno de 2 a 3 m³/s, enquanto a do Castanhão é de 14 m³/s, incluindo abastecimento humano, irrigação e carcinicultura". Para Figueiredo, com o volume atual do Castanhão, não seria possível garantir o abastecimento da RMF. "Orós é o único açude estratégico para o suprimento", conclui. O Castanhão atingiu o menor volume dos últimos 12 anos, com apenas 7.86% de sua capacidade total.
Prejuízos
Embora acredite que o Orós é o único reservatório capaz de abastecer o Castanhão, Luiz Paulino reconhece que "a redução no volume de água trará impactos para a produção agrícola e piscicultura". Paulo Landim concorda, ao ressaltar que o açude é "garantia de sobrevivência de milhares de famílias, que serão amplamente prejudicadas com a retirada de água".
Para a secretária de Agricultura de Quixelô, Jessilene Josino de Araújo, com a retirada da água a piscicultura será totalmente extinta no Município. Conforme ela, a produção já segue uma curva decrescente nos últimos anos devido ao longo período de estiagem. "Até 2010, nossa produção era de 100 a 120 toneladas ao mês. Neste ano, a não ultrapassa as 10 toneladas mensais e, a partir da redução drástica do nível do açude, provavelmente irá zerar", disse.
A titular da pasta afirma que mais de 200 famílias vivem diretamente da piscicultura ou agricultura artesanal em Quixelô, e "outras centenas dependem indiretamente deste segmento". "Cerca de 80% da economia da cidade gira em torno da pesca e agricultura, não sabemos como será no futuro, o prejuízo será grande. A certeza é que afetará a cidade como um todo".

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