Nova Olinda O grande desperdício dos resíduos de calcário nas minas das
cidades de Santana do Cariri e Nova Olinda pode estar com os dias contados a
partir de um trabalho que envolverá governo, universidades e institutos
tecnológicos para o aproveitamento do material. O rejeito descartado pelas
dezenas de áreas de exploração do produto, leva mais de 70% desse material para
o meio ambiente. É comum ver, entre uma cidade e outra, montanhas de cascalhos
descartados da extração. A ideia, a partir do segundo semestre, é iniciar uma
capacitação, principalmente dos pequenos mineradores, no intuito de criar
alternativas de aproveitamento, com um Centro de Tecnologia Mineral do Cariri.
A criação de um Arranjo Produtivo Local (APL) para atuar diretamente na
área está sendo trabalhada. A pretensão é dar uma dinâmica de aproveitamento
quase que total ao produto. A extração do calcário laminado, a pedra cariri, é
principal a atividade econômica produtiva e meio empregatício, especialmente em
Nova Olinda, onde se encontra a maior parte das minas de calcário.
O trabalho para implementação do centro vem sendo coordenado pela
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado (Secite).
Segundo o secretário adjunto da pasta, Francisco Carvalho, a ideia é realizar o
projeto com a participação das universidades, que têm um interesse nas áreas
geológica e paleontológica na região. Além dos institutos de tecnologia,
estadual e federal, e parcerias com órgãos como o Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae) e Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(Fiec).
O trabalho, ainda rudimentar, realizado com a retirada as pedras, acaba
não proporcionando um padrão do material e isso gera um desperdício. A finalidade
do desenvolvimento de pesquisas para o aproveitamento, irá, segundo ele,
agregar valor ao produto. Os trâmites para fazer uma licitação para que seja
iniciada a melhoria do galpão onde irá funcionar o centro já estão autorizados
pelo governo do Estado, e será no Município de Nova Olinda. A previsão é que a
recuperação do espaço aconteça até o mês de julho.
Máquinas adquiridas há alguns anos, e que se encontram no prédio da
Fatec - Cariri, em Juazeiro do Norte, serão levadas para Nova Olinda, para serem
utilizadas nas atividades de medição do material. "Serão transferidas
cinco máquinas. Essa é uma oportunidade que teremos de utilizar os equipamentos
de corte. Haverá o beneficiamento das rochas, para a padronização das peças, o
esquadrejamento e a fabricação do listelo", afirma Carvalho.
Utilização
O resíduo será utilizado tanto na fabricação de peças artesanais, como
na utilização do próprio pó oriundo do processo, que pode ser usado como
corretivo do solo e na redução da acidez. Francisco Carvalho disse que, no
momento, não há informações sobre algum tipo de aproveitamento que esteja sendo
realizado em relação à pedra.
Essa realidade de desperdício vem sendo uma preocupação de muitos anos,
principalmente dos órgãos ambientais. Uma fábrica de cimento de Barbalha também
tem aproveitado o produto, embora a indústria já tenha área requerida de
mineração. Em algumas mineradoras que fazem o melhoramento e o beneficiamento,
a intenção é atender ao grupo menos favorecido. A pedra Cariri tem sido
utilizada em pavimentação, bordas de piscina e área de lazer. As partes
menores, mesmo com o mínimo de aproveitamento, já são usadas na fabricação de
peças artesanais e material de acabamento na construção civil. "Ao longo
do tempo serão realizados cursos que farão com que os mineradores da região,
entendam o real valor do material que eles têm em mãos", disse o
secretário. Ele também destaca que o interesse é utilizar uma unidade de reúso
de água e energia solar no espaço.
O uso do pó na fabricação do concreto, da argamassa será trabalhado
entre as alternativas com tecnologias existentes, para poder transferir esse
conhecimento para a região e o setor de mineração, especialmente, e dar uma boa
alavancada nos processos de desenvolvimento das cidades de Nova Olinda e Santana
do Cariri.
O setor da mineração é um dos que mais emprega nas cidades que têm como
base econômica a agricultura. São mais de duas mil famílias que sobrevivem da
extração e tratamento da pedra para a comercialização, mas poucas empresas
conseguiram se modernizar o suficiente para expandir o negócio.
A maioria se encontra nas mãos de familiares. O processo é rudimentar na
maior parte das mineradoras e algumas delas funcionam de forma clandestina, sem
atender todos os quesitos relacionados às licenças. Noutras, a dificuldade de
se manter com todos os custos trabalhistas é evidente e os proprietários têm se
mantido no limite.
Uma das metas que vem sendo perseguidas pelos mineradores,
principalmente os que mais conseguiram avançar em termos de qualidade de processamento
do produto, é atingir o mercado exterior. Países da Europa tem sido um dos
focos de comercialização, a exemplo da Espanha e Portugal.
A primeira remessa do produto enviado para análise de alguns compradores
europeus não obteve sucesso. Por ser uma pedra fria, é mais adaptável ao clima
tropical. Essa foi a constatação inicial, segundo empresário e presidente da
Cooperativa de Mineração dos Produtores da Pedra Cariri (Coopedras), Idemar
Alves de Alencar. A entidade possui cerca de 20 integrantes.
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