São Paulo. No ano classificado pelo economista chefe do
Bradesco, Octavio de Barros, como "a passagem para uma coisa melhor",
a Associação Brasileira de Cartões de Crédito e Serviço (Abecs) também enxerga
oportunidades e projeta até um crescimento nominal de 6,5%, segundo o
presidente da instituição e vice-presidente do Bradesco, Marcelo Noronha. No
último ano, as transações desse modelo de pagamento chegaram a R$ 1,06 trilhão,
do qual os consumidores nordestinos foram responsáveis por R$ 143,1 bilhões -
terceiro maior montante, atrás de Sudeste (644,6 bilhões) e Sul (R$ 155,8
bilhões) e à frente de Centro-Oeste (R$ 83,3 bilhões) e Norte (R$ 38,1
bilhões).
O desempenho, segundo analisa Noronha, deve-se à Região possuir uma das
maiores penetrabilidades do setor no País, ancorada pelo processo de
bancarização promovido. "Essa inclusão financeira é um tema que passou
pelos bancos, pelo setor com cartão de crédito e nos últimos 15 anos foi
colossal", argumenta. Ele cita como principais motivos para o desempenho a
expansão do correspondente bancário, a chegada do cartão de crédito e débito,
"promovido pelos próprios bancos", e também a atuação dos lojistas,
"que criaram private label local (cartões de crédito das lojas)".
Sem imunidade à crise
Mas todos os ganhos e a margem de crescimento ainda disponível apontada
pelo executivo não passaram incólumes pela crise dos dois últimos anos.
Conforme o balanço do valor transacionado no Brasil em 2015 divulgado
ontem durante a 10º Congresso Nacional dos Meios Eletrônicos de Pagamento
(Cmep), em São Paulo, o Nordeste obteve um crescimento nominal de 8,4%,
enquanto Norte saltou 10,5%, Centro-Oeste teve 10,5%, Sul registrou 9,1% e
Sudeste cresceu 8,7%.
Poder aquisitivo
"Nos últimos anos, o Nordeste teve crescimentos superiores a grande
parte das outras regiões. Por quê? As pessoas ganharam poder aquisitivo. Agora,
quando bate o desemprego, a Região acaba sendo um pouco mais afetada do que as
outras", presume Marcelo Noronha.
'Mais afeitos ao crédito'
Perguntado sobre as características do consumidor nordestino, o
presidente da Abecs afirmou que a pesquisa elaborada pela instituição, em
parceria com o Datafolha, indica que as classes sociais no Nordeste têm mesmo
comportamento das demais e apontou apenas para uma questão: "no caso do
Sul, por exemplo, o usuário de cartões é conservador, usa mais o débito que o
crédito. No Nordeste, ele é mais afeito ao cartão de crédito, usa o parcelado,
a penetração local é maior e tem grande volume capturado", assinala.
Em 2015, o pagamento de produtos e serviços na modalidade crédito chegou
a R$ 99 bilhões no Nordeste - segundo maior volume do País, atrás apenas do
Sudeste (R$ 410,5 bilhões) e mais de R$ 10 bilhões a frente do terceiro
colocado, o Sul (R$ 87,9 bilhões). Enquanto que, na modalidade débito, o
consumidor nordestino movimentou o terceiro maior volume (R$ 44,1 bilhões),
atrás do Sudeste (R$ 234,2 bilhões) e Sul (R$ 67,9 bilhões).
Consumo das famílias
Ao afirmar que o setor de cartões, atualmente, visa a penetração em
estabelecimentos médicos e de ensino, o presidente da Abecs destacou a participação
do chamado dinheiro de plástico no consumo das famílias brasileiras, que chegou
a 30,5% ao longo de 2015.
"Segundo a nossa pesquisa, 95% dos consumidores usam o cartão de
crédito ou débito todo mês; 48% usa um dia na semana; e 67% parcela a compra
sem juros todo mês", destaca.
Sobre a estratégia de uso dos cartões, Marcelo Noronha ainda atribui o
auxílio dos lojistas que, hoje, para alavancar as vendas precisam
fundamentalmente deste tipo de pagamento. Para o executivo, "só desconto
não desencalha mais o estoque". "Se o lojista der só o desconto, as
vendas dele continuam como estão. O consumidor está seletivo. Ele analisa muito
antes de comprar. Então, o lojista precisa dar o desconto e parcelar a compra
sem juros para conseguir aumentar as vendas", afirma.
*O jornalista viajou a São Paulo a convite da Abecs
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