Dois trotes a cada minuto, mais de um milhão de ligações com informações
falsas, prejuízos difíceis de serem contabilizados e insistência da população
em divertir-se com assuntos sérios. É este o balanço de 2015 da Coordenadoria
Integrada de Operações de Segurança (CIOPS), que não bastasse ser o primeiro
passo para socorrer as vítimas de violência e emergência na cidade, tem ainda
de lidar com esse fardo. As ligações para o 190 com denúncias inverídicas somam
16% de todas recebidas pelo serviço. Ou seja, no ano passado, dos 7.867.225
atendimentos, 1.244.718 eram com informações falsas. É como se metade da
população de Fortaleza - hoje com quase 2,6 milhões de habitantes - tivesse
passado trote.
Crescimento
Os números indicam um crescimento de 15% em relação a 2014, quando foram
feitas 6.553.695 ligações, sendo 1.075.576 acionamentos falsos. A média diária
de atendimentos de trotes passou de 2,9 mil em 2014 para 3,4 mil em 2015.
Cientes do problema, os órgãos de segurança têm investido em ações para reduzir
os danos. De acordo coordenador da CIOPS, coronel Aristóteles Coelho,
treinamentos vem sendo realizados com os atendentes para perguntar detalhes que
identifiquem se as informações são falsas.
Desse modo, a grande maioria dos trotes não chega ao setor de despacho
das viaturas. Elas só são enviadas quando não há dúvidas, o que provocou uma
queda considerável. Em 2014, foram 5.574 deslocamentos e, no ano passado,
3.159. O coronel Aristóteles Coelho, coordenador da CIOPS, disse que os mais
comuns estão relacionados a perturbação de sossego, brigas e desordem em geral.
Adultos, jovens e até crianças emitem chamados falsos. "Já teve caso em
que uma mesma pessoa ligou mil vezes no mesmo mês".
De acordo com Marcos Silva, sociólogo e pesquisador do Laboratório de
Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, a lógica do trote
está ligada a uma prática de desconfiança nos aparelhos de segurança pública.
"Hoje em dia, passamos pela perda da referência em instituições-base, como
a polícia, o que gera descrédito na atuação delas", afirma. O trote surge
como forma de desrespeito a essas entidades e para reclamar da atuação dos
agentes. Porém, ao mesmo tempo, produz dados falsos sobre a segurança pública e
prejudica o trabalho dos policiais. Para o pesquisador, é preciso construir um
elo de respeito entre as pessoas e os agentes de segurança para evitar essa
prática.
Passar trote é uma conduta que pode, literalmente, custar caro. O valor
representa o gasto médio de deslocamento da equipe com gasolina, manutenção de
viatura, equipamentos e salário dos agentes, entre outros fatores. Não existem
dados oficiais sobre o custo da prática no Ceará. Uma estimativa do Senado
Federal, com base em dados da PM do Estado do Amapá, afirma que cada
deslocamento de viatura devido a uma mobilização desnecessária gera prejuízo de
R$500. Aplicando a valor aos deslocamentos por trote realizados no Ceará em
2015, os gastos chegariam a R$1.579.500,00.
Punições
Segundo o artigo 340 do Código Penal Brasileiro, quem provocar ação de
autoridade "comunicando-lhe a ocorrência de crime que sabe não se ter
verificado" pode ficar detido por até seis meses ou pagar multa. A pena é
de reclusão de um a cinco anos e multa a quem atentar contra serviços de
utilidade pública.
O infrator que "interromper ou perturbar serviço telefônico"
pode pegar detenção de até três anos e pagar multa. Se o trote ocorrer por
ocasião de calamidade pública (grandes desastres), a pena é dobrada. (Colaborou
Nicolas Paulino)
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