Fortaleza As chuvas que surpreenderam no mês passado e
voltaram a cair em regiões isoladas do Estado não são suficientes para animar o
cearense. O quadro de seca para este ano teve um prognóstico ainda mais
preocupante para os próximos três meses, conforme informou, ontem, a Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Para março, abril e
maio, há 70% de probabilidade que fiquem abaixo da média histórica; 25% dentro
da média; e apenas 5% acima da média.
O anúncio foi feito no auditório do Banco
do Brasil, em Fortaleza, durante a primeira reunião de 2016 do Pacto de
Cooperação da Agropecuária Cearense (Agropacto), promoção da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec).
O presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, disse que a probabilidade
do quinto ano de seca decorre, ainda, da forte influência do fenômeno El Niño
nas águas do Oceano Pacífico e mais o fato de que o Oceano Atlântico não
apresenta quadro favorável para impactar no próximo trimestre, onde há,
historicamente, maiores precipitações como consequência do ingresso da Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT).
Eduardo Martins lembrou que os efeitos do El Niño ocorrem de forma ainda
mais negativa pela terceira vez, desde quando se passou a monitorá-lo. Os anos
anteriores foram entre 1997 e 1998, e 1982 e 1983. Com isso, a exemplo do que
foi observado há um mês, a intensidade elevada do fenômeno diminui as chances
de precipitações mais regulares no Ceará.
Já em fevereiro, destacou que as precipitações estão abaixo da média histórica.
Apesar de o mês não ter encerrado, o aporte de água para os reservatórios do
Estado, principalmente o Castanhão, que vem abastecendo Fortaleza e a sua
Região Metropolitana, foi praticamente neutro. Ainda ontem, as chuvas voltaram
a cair em 54 dos 184 municípios, sendo as maiores na Região Jaguaribana: Russas
(95mm), Morada Nova (72mm) e Limoeiro do Norte (57mm).
No encontro do Agropacto, o secretário executivo da Agricultura, Pesca e
Aquicultura (Seapa), Euvaldo Bringel lembrou que o Estado está tomando medidas
em relação à preservação ao máximo das reservas do Castanhão, diminuindo as
outorgas e a vazão. Mesmo reconhecendo que o setor produtivo vai sofrer grandes
perdas, ressaltou que, sem o monitoramento, o Castanhão poderia se encontrar em
situação bem pior.
Preocupação
O presidente da Faec e coordenador do Agropacto, Flávio Saboya,
manifestou sua preocupação com as informações repassadas pela Funceme. Para
ele, o quadro é preocupante e, se for confirmado este prognóstico, as reservas
hídricas tendem ao colapso. Saboya acredita que as dificuldades atingem,
fortemente, a pecuária, a agricultura irrigada e a criação de camarão. Na
região de Jaguaruana, há a estimativa de que os prejuízos atinjam cerca de 90
produtores, que geram mais de 500 empregos, conforme informou o próprio
presidente da Câmara Setorial do Camarão, Cristiano Peixoto.
Saboya lembrou que a agricultura familiar é protegida por seguro-safra e
programas sociais, enquanto o médio produtor ainda não conta com o Seguro-Seca,
"proposta que estamos defendendo há três anos", disse. Ele reconhece
que a água é prioridade para consumo humano, mas os animais precisam também
beber, devendo contar com medidas emergenciais, enquanto se aguarda as águas da
Transposição do Rio São Francisco.
O produtor de camarão José Quintão estima que os prejuízos para a
carcinicultura deverão chegar a 20% até o fim deste ano. Ele destacou que a
queda na produção decorreu da limitação de água proveniente do Açude Castanhão,
o que deverá prosseguir pelos próximos meses.
O diretor da Ceasa de Maracanaú, José Maria Pimenta, ainda acredita numa
estação chuvosa dentro ou acima da média. Ele tem como parâmetro o fato
histórico de que nunca houve, na região, cinco anos de seca, e que há chances
de erro no prognóstico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário