São Paulo. Além da
microcefalia, o zika parece ser capaz de causar também anomalias fora do
sistema nervoso central em bebês gestados por mães infectadas pelo vírus. Um
estudo de caso divulgado ontem por pesquisadores brasileiros e americanos
reforça uma suspeita que já vem sendo aventada – de que o zika cause uma
síndrome congênita –, e aponta para uma potencial relação com o acúmulo de
líquido generalizado no corpo do bebê e morte do feto.
O
trabalho relata o caso de uma menina nascida morta em Salvador com uma condição
conhecida como hidranencefalia (em que os hemisférios cerebrais desaparecem e a
cavidade é preenchida por líquido cefalorraquidiano), calcificações
intracranianas e outras lesões.
O bebê
apresentou, ainda, outra condição que até então não tinha sido relacionada com
zika: a hidropsia, que se caracteriza por acúmulo de líquido e inchaço sob a
pele, o peritônio (membrana que reveste a parte interna da cavidade abdominal)
e a pleura (membrana que envolve o pulmão). Autópsia revelou a presença do
vírus zika no córtex cerebral, na medula e no líquido amniótico.
“Resolvemos
relatar o caso em revista científica porque apresenta uma evidência adicional
de que o zika pode, além da microcefalia e de doenças oftalmológicas, estar
ligado a ocorrência de hidropsia e à morte do feto”, disse Antonio Raimundo de
Almeida, diretor do Hospital Geral Roberto Santos, de Salvador, que acompanha
pelo menos uma centena de crianças nascidas com microcefalia desde 31 de
outubro de 2015.
Ele
assina o trabalho na revista PLOS Neglected Tropical Diseases junto com o
médico fetal Manoel Sarno, que fez o acompanhamento da mãe na gravidez, e com
pesquisadores americanos da Universidade Yale e do Texas. Os autores relatam
que a mãe, de 20 anos, tinha iniciado o cuidado pré-natal na 4ª semana de
gestação, quando foi testada negativamente para várias doenças, e a gravidez se
desenvolvia sem problemas.
No
ultrassom da 14ª semana, a avaliação foi normal. Na 18ª semana, porém, se
observou que o feto estava com o peso abaixo do normal, e os ultrassons
seguintes, na 26ª e na 30ª, constataram a microcefalia e o desaparecimento dos
hemisférios cerebrais, que se liquefizeram. O feto acabou morrendo depois e um
parto foi induzido na 32ª semana. Os pesquisadores suspeitam que houve uma
infecção intrauterina provavelmente no primeiro trimestre da gestação, mesmo
sendo um caso assintomático.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS), porém, afirmou ontem que as mulheres nos
países afetados pelo vírus da zika devem amamentar seus bebês normalmente.
Segundo a OMS, não há prova de que o vírus possa infectar as crianças por meio
da amamentação. “É um dos momentos mais difíceis de saúde pública que o País já
enfrentou”, declarou o ministro da Saúde, Marcelo Castro.
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