Nos anos de 2014 e 2015, 1.791 adolescentes foram assassinados no Ceará,
segundo dados da Secretaria Pública da Segurança e Defesa Social (SSPDS). O
número equivale a 74 jovens mortos por mês no Estado. A maioria das mortes é
por armas de fogo.Os dados demonstram o grau de vulnerabilidade e violência que os jovens
estão expostos no cotidiano. Apesar de as autoridades da Segurança Pública do
Ceará comemorarem a redução do número de homicídios nos últimos meses, o Estado
ainda apresenta uma das maiores taxas de assassinatos de adolescentes no País,
segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA).
A temática acentuou uma importante discussão na Assembleia Legislativa
do Estado do Ceará, que resultou na criação do Comitê Cearense pela Prevenção
de Homicídios na Adolescência. O comitê, que será coordenado pelo Unicef, tem
por objetivo traçar os perfis de meninos e meninas, entre 10 e 19 anos, vítimas
e autores de homicídios.
O Ceará é o terceiro estado brasileiro com maior IHA. A situação é ainda
mais preocupante se for considerado apenas dados de Fortaleza, que lidera entre
as capitais brasileiras. O estudo apontou que para cada mil adolescentes que
chegam aos 12 anos, cerca de 10 deles são mortos antes de completar 19 anos.
Uma dessas vítimas foi o adolescente O. S, assassinado em 2014, aos 16
anos. O perfil do garoto é semelhante ao de muitos outros meninos e meninas que
acabam vítimas da relação com o mundo dos crimes.
Nascido na Favela do Urubu, na periferia de Fortaleza, O. S cresceu com
a avó no bairro Bom Jardim. Ainda criança abandonou a escola na 4ª série,
deixando para trás a educação para se envolver cedo com o álcool e outras
drogas. Daí para o furto demorou apenas três anos. O resultado desta curta
trajetória de vida foi trágico, terminando em mais uma morte. Aos 16 anos, o
garoto foi executados a tiros no Bom Jardim.
Conforme Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef no Ceará, o Comitê
Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência irá pontuar
detalhadamente essas trajetórias de vida, tanto dos adolescentes que são
vítimas, quanto dos jovens autores de assassinatos.
"O projeto nasce com o propósito de identificar problemas
relacionados à vida privada e institucional desses jovens. Como, por exemplo,
onde nasceu, se estudou, com quem morou e como foi a infância em sua
localidade. Em posse dessas informações vamos conseguir identificar os
problemas e desenhar as ações, que, posteriormente, deverão ser implementadas
pelo Governo", informou chefe do Unicef no Ceará.
O presidente do Comitê, deputado Ivo Gomes, lembrou que as mortes desses
meninos e meninas parecem estar naturalizadas, banalizadas, como algo que não
choca mais a população. "Nós não podemos encarar essa realidade como algo
natural. Temos que dar a nossa contribuição. Esse Comitê se propõe a trazer
algo novo e tentará fugir das hipóteses do senso comum para o problema".
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