Juazeiro do Norte / Coreaú. O Ministério Público Federal
(MPF) e a Polícia Federal (PF) deflagraram, ontem, operação contra fraudes no
transporte escolar no Interior do Ceará. Intitulada “Linha Amarela”, em alusão
à cor dos coletivos, a operação envolveu sete municípios, culminando na prisão
de três empresários em Fortaleza e apreensão de 17 carros de luxo.
Um quarto
suspeito está foragido. Segundo a investigação, as empresas envolvidas tinham
quase R$ 100 milhões em contratos.
A frota escolar acaba sofrendo o ônus do dinheiro desviado, que poderia
ser direcionado para renovação dos veículos. A maioria destes transportes
carece de segurança adequada e põe em risco a vida de inúmeros alunos, como
aconteceu no município de Coreaú, na Região Norte do Estado, com a morte de uma
criança de três anos, na manhã de ontem.
Segundo a delegada da PF Rejane Maria Maciel Sales, há indícios de que
os envolvidos estejam envolvidos em diversos crimes. A delegada federal Josefa
Lourenço acredita que os crimes tenham iniciado há sete anos. A operação
identificou 25 empresas laranjas no Estado que podem fazer parte do esquema.
Destas, quatro possuem sede em Lavras da Mangabeira, as quais prestavam
serviços para Assaré; e outras dez em Juazeiro do Norte. Para a Polícia, “se
trata de uma rede organizada”, cujas empresas tinham ligações entre si.
De acordo com o procurador da República Rafael Rayol, os desvios de
recursos públicos teriam ocorrido, principalmente, na contratação de transporte
escolar e locação de carros pelos municípios. As cinco principais empresas
investigadas firmaram, nos últimos cinco anos, contratos com prefeituras cearenses,
que somam quase R$ 100 milhões. Vencendo licitações de forma fraudulenta, elas
desviaram parte do dinheiro público em montante que ainda está sendo apurado
pelos órgãos.
Os envolvidos podem ser indiciados por fraude licitatória, falsidade ideológica,
superfaturamento, formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro.
Rejane Maciel ressaltou que a operação deve continuar sem prazo para acabar e
concluiu dizendo que “o transporte de alunos já está prejudicado”.
Tragédia anunciada
Um acidente envolvendo um ônibus escolar matou uma criança de três anos
e deixou mais de 30 levemente feridas, na manhã de ontem, na localidade de
Lagoa do Barro, entre os distritos Aroeira e Ubaúna, em Coreaú.
O veículo desceu o barranco de uma estrada carroçável após o motorista
perder o controle da direção. O impacto foi tão forte que o pequeno Francisco
Lucas Cavalcante Silva foi arremessado para fora e morreu no local, por
traumatismo craniano, segundo laudo preliminar do hospital, em Coreaú, para onde
o corpo foi levado. Os outros passageiros foram socorridos por pessoas que
passavam pelo local.
Segundo testemunhas, o motorista, identificado como Samuel Machado,
filho do vereador de Coreaú João Aucimar Machado, dono do veículo,
subcontratado para prestar serviço de transporte de alunos entre os distritos,
não teria habilitação para conduzir aquele tipo de transporte. Esse seria o
segundo acidente, em menos de dois meses, com o mesmo motorista ao
volante.
O ônibus de placas HVI-1708, de 45 lugares, com rota diária entre as
localidades de Tabuleiro, Mosquito, Visitação, Tapadinho e Lagoa do Barro, não
tem condições mínimas para transportar crianças. Nenhuma das cadeiras possui
cinto de segurança. O veículo não tem, sequer, identificação de transporte
escolar. Os pneus carecas e a lataria corroída pela ferrugem, denunciam o
desgaste pelo tempo de uso. Para Maria Eliene Soares, que acompanhava a filha
Vitória, de 4 anos, até a Escola Olindina Neres da Frota, para onde o ônibus
seguia, o acidente teria sido motivado por uma distração do motorista, que
conduzia a vítima, com outras, na frente.
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