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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Estrangeiras de olho em usina de dessalinização

Diante da crise hídrica por que passa o Ceará e das expectativas de mais um ano de seca em 2016, o governo do estado busca alternativas para atender a demanda de água para consumo humano, para o agronegócio e para a indústria. A ideia é estimular tanto o reúso de água como projetos de dessalinização de água do mar. 

Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico (SDE), Nicolle Barbosa, hoje, há quatro empresas interessadas na construção de uma usina de dessalinização de água do mar no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). Todas são estrangeiras, sendo duas espanholas e duas israelenses.
Com investimento estimado em R$ 1 bilhão, a usina seria capaz de produzir, no primeiro momento, 3m³ por segundo de água industrial, volume suficiente para atender o consumo atual do Cipp, que gira em torno de 2,7m³/s. Segundo Barbosa, a ideia é fazer uma usina modelada, que poderia ser ampliada para produzir até 10m³/s. "Com isso as águas do Castanhão seriam liberadas e não precisariam mais ir para o Cipp", disse a secretária. Para a primeira fase do empreendimento, o prazo de conclusão das obras é estimado em 12 meses. "A gente espera que, em 2017, já tenha essa usina", diz Barbosa.
Recursos do investidor
Os recursos para construção da usina serão exclusivos do investidor e a contrapartida do Estado é a concessão. "Hoje nós estamos definindo como vai ser esse modelo de concessão. O grande entrave é a gente achar uma tarifa que seja viável para a empresa, porque não vai ser o preço que se paga hoje", diz Barbosa.
Devido os custos operacionais relacionados à tecnologia envolvida no processo de dessalinização e os custos de instalação, inevitavelmente, o preço das tarifas teriam de subir.
Estima-se que a água bruta, própria para uso industrial, proveniente de uma usina de dessalinização custaria entre R$ 4,00 e R$ 5,00 por 1m³, enquanto que, atualmente, as indústrias instaladas no Estado pagam cerca de R$ 1,00 pelo mesmo volume, uma das tarifas mais baixas cobradas no País, o que, segundo Nicolle, desestimula outras empresas a entrar no negócio de produção de água.
"Mesmo no Ceará, que é um estado do semi-árido, a água bruta ainda é muito barata. Assim, o empresário, dificilmente, vai querer pagar um valor mais alto. Então, a grande dificuldade, mesmo para o reúso de água, é a questão econômica", diz a diretora de Mercado da Cagece, Cláudia Caixeta. Para Caixeta, a instalação da usina de dessalinização no Cipp deixaria o Ceará em uma situação hídrica confortável. "Isso já ajudaria o Estado como um todo, mas tem que ser um projeto viável do ponto de vista econômico", afirma.
A secretária de Desenvolvimento Econômico afirma, no entanto, que o Cipp está preparado para receber os novos empreendimentos previstos. Mas caso a usina de dessalinização não fique pronta até 2017, Nicolle diz que, com a conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco, previstas para 2016 e que irá abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza, o Complexo Industrial terá sua demanda atendida.
"O cenário (de seca) para 2016 preocupa, por isso precisamos acelerar ainda mais esse processo (de concessão). De todo modo, o importante é dizer que o Estado vai estar preparado (para receber novas indústrias)", garante Nicolle.
Reúso
Além da dessalinização, outra solução que vem sendo discutida como saída para enfrentar a seca é o reúso de água. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Alvaro Menezes, coordenador da consultoria GO Associados, que faz estudos de reúso, hoje, a prática já é comum para fins industriais ou para a agricultura, mas o ideal é ampliar também para produzir água potável para consumo humano.
"Aqui no Nordeste, esse tipo reúso pode se dar com mais urgência, para fazer, por exemplo, a recarga de aquíferos e de barragens, para você ter água para atender as populações", disse Menezes, que participa hoje do XII Encontro Técnico de Reúso, promovido pela Cagece. Embora, segundo ele, ainda haja preconceito contra água de reúso, "muitas vezes ela apresenta um padrão melhor do que o daquelas águas que abastecem populações do semi-árido".
No entanto, ele reconhece que o maior gargalo para a implantação de sistemas de reúso, assim como os de dessalinização, é a falta de modelo econômico voltado para esse tipo de produção. "A gente precisa desenvolver projetos de reúso e, junto com isso, tornar as estações mais eficientes, porque hoje está cada vez mais difícil buscar financiamentos", observa.
Para Claudia Caixeta, no médio e longo prazo, não será mais possível evitar soluções como o reúso e a dessalinização. "A gente tem que implementar isso, a questão do reúso não tem mais volta, porque a gente não tem mais alternativa", afirma.

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