Uma camiseta, uma bermuda e uma
sunga. Adriana Moura de Pessoa Carvalho Moraes escolheu estes três itens para
presentear o marido, Marcelo Barberena Moraes, que completava aniversário no
último sábado (22). Os presentes iam acompanhados de cartões assinados por ela
e pelas duas filhas do casal, uma de sete anos e a outra de apenas oito meses.
Horas após entregar os pacotes, a mulher e a criança mais nova foram
assassinadas a tiros em uma casa de veraneio em Paracuru, na madrugada de
domingo (23). O homem, marido e pai das vítimas, admitiu ter matado as duas.
Durante
toda a tarde e o começo da noite de ontem, os pais e os irmãos de Adriana foram
à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Bairro de Fátima, em
Fortaleza, para prestar depoimento à diretora da unidade, delegada Socorro
Portela. A irmã de Adriana, Ana Paula Carvalho, revelou o detalhe ocorrido
naquela noite em que as duas vidas foram tiradas de maneira violenta e ainda
não completamente esclarecida.
Conforme
Ana Paula, a irmã era alguém que apreciava a vida matrimonial e dedicava-se a
agradar a família. "Adriana era uma mãe, esposa, guerreira, batalhadora,
que tentava sempre manter o casamento, pois eles viviam com brigas. Eram brigas
normais, pois ele era um cara temperamental. Minha irmã era uma pessoa que ia
da casa para o trabalho, sempre muito dedicada", relatou.
Ainda sem conseguir dormir, Ana
Paula revelou que a tragédia desestruturou as bases dos parentes, que dizem
estar perplexos com os fatos.
"A
família está sangrando, arrasada. Nunca mais minha irmã e minha afilhada e
sobrinha vão voltar. Estamos aos pedaços. É muita dor, estamos sem conseguir
dormir e perplexos com tudo o que aconteceu, pois a gente nunca imaginou que
ele (Marcelo), que estava dentro de casa, pudesse cometer isso. Minha irmã
dormia com o inimigo", afirmou a irmã e tia das vítimas.
Conforme
a família, Adriana e Marcelo estavam casados há doze anos e apesar do
temperamento singular, o homem não teria demonstrado atitudes agressivas que
fossem de conhecimento dos familiares de Adriana Moura.
Frieza
Entretanto,
algo que chamava a atenção dos que conviveram com o casal era a maneira como
Marcelo tratava a filha caçula, Jade Pessoa de Carvalho Moraes. Segundo a
família de Adriana, Marcelo era menos carinhoso com a bebê.
"Marcelo
demonstrava indiferença com relação à filha mais nova. Ele era mais amoroso e
mostrava mais carinho com a mais velha. Ele era frio com a menor. Ajudava no
que fosse preciso, mas era frio. A gente já notava isso", alegou Ana
Paula.
A
revelação corrobora com o que foi antecipado pela delegada Socorro Portela na
última terça-feira (25). Naquela ocasião, a presidente do inquérito afirmou
que, nos depoimentos que tomou de pessoas que trabalharam para o casal,
"Marcelo tinha bastante ciúmes, inclusive da criança, pois ela tomava
muito o tempo da mãe".
Ana
Paula revelou que a filha mais velha do casal, de sete anos, está sob os
cuidados da família de Adriana. Conforme a tia da menina, a criança já foi
informada sobre as mortes. Porém, não sabe ainda sobre o que aconteceu ao pai.
"Ela
está sendo bem cuidada por nós, e espero que continue para a vida toda, pois é
o melhor lugar. Ela está com médicos e psicólogos dando todo o suporte. Mas ela
está triste, abalada. E está sabendo da realidade, que a mamãe e a Jade
faleceram, só não sabe por quem. Ainda não foi dito. Ela só diz que está com
muita saudade da mãe", informou, emocionada.
O pai
de Adriana, Paulo Pessoa de Carvalho, foi o primeiro a prestar depoimento. O
encontro dele com a delegada durou cerca de três horas.
Conforme
o advogado que representa a família, Leandro Duarte Vasques, o homem fez
revelações que podem levantar novos questionamentos e até apontar para outros
indícios. Vasques acredita que o crime pode ter sido premeditado.
"Na
véspera da ida do casal Marcelo e Adriana com as demais pessoas para a casa de
praia, Adriana chegou a indagar ao pai, na presença do marido, se ele iria
também (a Paracuru), e nessa ocasião, antes de responder, o pai foi
interrompido por Marcelo, que indagou o motivo de estar convidando o pai se nem
sabia que ele queria ir. Isso, sem dúvidas, simboliza uma premeditação, pois é
muito incomum alguém ir celebrar o aniversário e se isolar, principalmente
quando não havia um mal estar, uma intriga familiar, muito pelo contrário.
Apenas com seu irmão presente, levar a uma casa distante consideravelmente de
Fortaleza, em minha leitura, isso é prova inequívoca que ele premeditava o
crime e tentava, portanto, evitar a presença de familiares da Adriana na cena
da tragédia", apontou, enfatizando que na casa estavam, além do casal e as
crianças, o irmão de Marcelo, Rafael Moraes, e a esposa, Ana Carolina.
O
advogado ainda sugeriu que o casal teve, há alguns meses, problemas de
infidelidade. Marcelo, conforme Vasques, tinha uma amante. "Ele próprio
admite que teve um relacionamento extraconjugal há três ou quatro meses que
teria causado um abalo, uma turbulência no casamento, mas que eles estariam
recomeçando a conversar de novo. Mas o casal não estava nos seus melhores
dias", afirmou. A presidente do inquérito, por sua vez, não confirmou a
informação do advogado.
Investigação
Socorro
Portela, que já foi a Paracuru duas vezes, disse que já colheu "pelo menos
35 depoimentos" de domingo até ontem.
Nas
investigações, foram encontradas nove armas de fogo na casa de Marcelo, no
bairro Cocó, em Fortaleza, além do revólver calibre 38 utilizado para matar as
vítimas. Adriana foi morta com um tiro na cabeça na cama em que dormia. Jade
foi atingida por um disparo nas costas e morreu dentro do berço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário