Deputados estaduais afirmam
estar preocupados com a previsão de seca para o próximo ano e criticam o uso da
estiagem como moeda de troca no Interior. Na semana passada, o deputado federal
Ronaldo Martins (PRB) denunciou a "indústria da seca" no Ceará. Neste
mês, parlamentares apontaram, da tribuna da Assembleia Legislativa, que o
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) está utilizando
critérios políticos para perfuração de poços profundos nos municípios do
Interior.
A
deputada Fernanda Pessoa (PR) diz estar preocupada com a perspectiva de mais um
ano de seca no Estado e afirmou não compreender o porquê de solicitações de
parlamentares não serem acatadas por prefeitos para a perfuração de poços em
algumas comunidades.
A
parlamentar destacou que, em alguns casos, os pedidos não são atendidos quando
o deputado solicitante é da oposição. "Fizemos, inclusive, audiência
pública onde foi constatado que poços estavam sendo perfurados apenas em
comunidades onde determinado prefeito havia recebido votos e outros eram
deixados de lado. Isso é muito comum de acontecer", lamentou.
A
deputada apontou que os poços, mesmo após a perfuração, não recebem
eletricidade para pleno funcionamento. "Eu acredito que essa indústria da
seca exista, sim, pois, como sou uma deputada de oposição, minhas demandas
dificilmente são atendidas", reforçou.
Churrascarias
De
acordo com a republicana, há casos de denúncias de que prefeituras procuraram
atender até mesmo a churrascarias, deixando os interesses da população em
segundo plano. "Infelizmente, em pleno século XXI, ainda estamos passando
por esse tipo de política", ressaltou.
Roberto
Mesquita (PV) destacou que a indústria seca está presente na história do Ceará,
mas aponta que hoje existem ações de fiscalização mais eficazes. Ele lamentou a
situação do Estado, que recebeu recarga de água em poucas regiões e em outras a
situação é calamitosa. "Nunca vi o açude do General Sampaio ou de
Pentecoste secos. Nem o carro-pipa pode atender, porque a água está cada vez
mais longe e escassa", informou.
Para
ele, o Governo do Estado vem trabalhando menos do que o Estado merece, mas
salientou que a atual gestão tem apresentado políticas públicas para o
enfrentamento dos efeitos da estiagem, como perfuração de poços profundos e
instalação de adutoras de engate rápido.
"Essa
é uma prática que, infelizmente, teima em existir, em que pessoas se aproveitam
da situação em benefício próprio", disse o deputado Júlio César Filho
(PTN). Ele afirma que isso acontece em busca de votos e de dinheiro. "Essa
denúncia é grave e precisa ser apurada, envolvendo todos os órgãos que combatem
a seca, como União, Exército e as prefeituras, que são o elo mais fraco entre
todos", opina.
Devastadora
O
parlamentar afirmou que é preciso que o caso seja denunciado ao Ministério
Público para uma investigação mais aprofundada. Ele ressaltou que todos os
parlamentares ficaram preocupados com a informação de que a seca em 2016 será
mais devastadora, já que nos últimos anos a situação tem sido traumática para
centenas de famílias no Interior do Estado. Júlio César defendeu uma
intensificação dos trabalhos do Governo do Estado para enfrentar o problema.
"Devemos
redobrar todas as ações emergenciais e de médio prazo. Apesar de as adutoras de
engate rápido amenizarem o sofrimento da população, é preciso aumentar o
trabalho para o Cinturão das Águas para pressionar os deputados federais para
que possamos fazer com que a Transposição do São Francisco chegue até
Jati", defendeu.
O
deputado Zé Ailton Brasil (PP) afirmou que ainda não recebeu qualquer
informação sobre o uso político de prefeitos em relação à seca, mas lamentou a
situação de algumas cidades. Segundo ele, 2016 deve ser um ano muito difícil
para a população e, hoje, ainda que o litoral e a região do Cariri não estejam
com muitos problemas pela estiagem, boa parte do Estado sofre com a falta de
reposição hídrica.
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