No Ceará, são geradas diariamente 9.711 toneladas de resíduos sólidos em áreas urbanas. Entretanto, 7.588t são recolhidas pelos serviços de limpeza dos municípios. A diferença entre o que é produzido e o que é recolhido (21,86%) revela que quase dois milhões de cearenses não têm nenhum serviço de coleta regular de lixo.
Os dados são relativos ao ano passado e fazem parte do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil divulgado, ontem, pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O estudo apontou ainda que mais da metade (55,1%) de todo o lixo urbano coletado no Ceará tem um destino inadequado.
Dos resíduos sólidos recolhidos diariamente no Estado, 3.407 toneladas (44,9%) são levadas para aterros sanitários, conforme o que é orientado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O restante é levado a aterros controlados e lixões, o que não deveria acontecer desde 2014, quando venceu o prazo estipulado pela lei para a implantação de destinações ambientalmente adequadas ao lixo.
A pesquisa mostrou que a situação manteve-se estável em comparação com o ano anterior, quando 55,2% dos resíduos coletados foram levados a locais inapropriados, como lixões.
Contudo, a situação do Ceará é das melhores em comparação com outros estados, ocupando, em termos percentuais, a terceira posição no Nordeste entre os que têm maior destinação correta, ficando atrás apenas do Piauí (50,3%) e de Sergipe (47%).
Na Região, o Ceará também é o que mais coleta lixo por habitante (0,858 kg/hab/dia), sendo o sexto do País, logo abaixo de Mato Grosso do Sul (0,907), Amazonas (0,936), Goiás (0,962), Rio de Janeiro (1,307), São Paulo (1,381) e Distrito Federal (1,551).
O coordenador do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ronaldo Stefanutti, avalia que a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) se destaca com relação ao restante do Estado. "Há cerca de 4 milhões de pessoas que têm uma gestão de coleta implantada. E grande parte destes resíduos urbanos são levados para os aterros", disse. Contudo, "há outras demandas de aterros que precisam ser construídos", completou.
Stefanutti afirmou ainda que a Capital falha com a coleta seletiva, destinada à reciclagem e também prevista na PNRS. "Não temos isso atendido conforme a legislação. Existem pequenos exemplos, mas há todo um trabalho a ser feito", analisou.
Aterros
Atualmente, o Ceará possui apenas cinco aterros sanitários, cada um atendendo a dois municípios. Eles estão localizados, segundo a Secretaria Estadual do Meio ambiente (Sema), em Caucaia, Maracanaú, Eusébio, Sobral e Mauriti. Cada um deles atende a dois municípios. Ou seja, há 174 cidades no Ceará sem um despejo ambientalmente adequado dos resíduos.
"Eles tentam solucionar o problema através do lixão, o que é condenável. A coleta seletiva, que é obrigatória, ainda são poucos que a fazem e, portanto, estamos muito longe do que seria uma situação adequada", lamentou o titular da Sema, Artur Bruno. "É preciso acelerar as soluções para que o Ceará tenha uma política correta e sustentável de gestão dos resíduos sólidos", resumiu o secretário.
Para ele, mesmo com os avanços, a situação preocupa. "Apesar de o Ceará se destacar como um dos que têm procurado resolver esta questão, eu não diria que estamos satisfeitos", afirmou. Segundo Bruno, a Sema e a Secretaria das Cidades estão auxiliando os municípios "a encontrar soluções para a gestão dos rejeitos", disse.
A reportagem procurou a Prefeitura de Fortaleza, mas até o fechamento, não houve retorno.
Germano Ribeiro
Repórter
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