Seja bem vindo...

Páginas

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Aneel quer nova divisão para gasto com térmicas

Brasília. O pagamento do custo adicional das térmicas passará a ser pago por todos os brasileiros, e não mais apenas pelos consumidores da região onde as usinas estão localizadas. A proposta beneficia os consumidores do Nordeste, que pagariam um custo maior pelo fato de boa parte do parque de térmicas estar localizada nos Estados da região, embora parte dessa energia seja enviada para o Sudeste. Na sexta-feira da semana passada, por exemplo, o Nordeste enviou 2,5 mil MW médios ao Sudeste.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) propôs a nova forma de rateio ontem, durante reunião da diretoria, e ficará em audiência pública de 29 de janeiro a 2 de março. A nova proposta de divisão de custos, no entanto, já será aplicada em janeiro. Assim, em vez de onerar a conta de luz de janeiro do Nordeste em R$ 25,00, por megawatt-hora (MWh) e a do Sudeste em R$ 3,60 por MWh, todos os brasileiros pagarão R$ 3,65, a mais, por MWh nesse mês.
Esse custo diz respeito ao pagamento pela energia das térmicas, cujo custo supera o novo teto do preço da energia no mercado de curto prazo (PLD), de R$ 388,48, por MWh. Várias usinas que hoje estão em operação têm custo de geração muito superior a esse valor. As térmicas atualmente, são pagas por um encargo que é cobrado na conta de luz, chamado de Encargos de Serviço do Sistema (ESS), e que seria cobrado apenas dos consumidores da região onde a usina estava instalada.
No sistema elétrico, são quatro as regiões consideradas: Norte, Nordeste, Sul e Sudeste/Centro-Oeste. Para a Aneel, o sistema gerava uma distorção em momentos como o atual, em que todo o parque de usinas térmicas está em operação e as transferências de energia entre as regiões são relevantes.
Região beneficiada
Pelo sistema atual, embora consuma 16% da carga de energia do País, o Nordeste arcaria com 40% do custo do acionamento dessas usinas, ainda que envie boa parte da produção para o Sudeste. Para evitar que isso ocorra, a proposta da Aneel é que o custo seja dividido por todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional (SIN).
"Havia uma distorção no modelo, que passou a existir na medida em que a geração deixou de ser hídrica e passou a avançar sobre outras fontes de energia, sobretudo as térmicas", disse o diretor André Pepitone. "Essa energia beneficia todo o sistema brasileiro, mas quem assumia era apenas o submercado onde a térmica ficava. Agora, vamos onerar quem se beneficia, ou seja, o SIN como um todo". Ao reduzir no ano passado o teto do PLD de R$ 822,83 para R$ 388,48, a Aneel havia proposto que o ESS das térmicas mais caras seria pago apenas pelos agentes expostos, ou seja, sem contratos de compra de energia e que dependiam do mercado à vista. Essa ideia foi criticada pelo setor, o que fez com que a Aneel recuasse e mantivesse o rateio nos termos originais, para todos os consumidores da região da usina, expostos e não expostos.
Para o relator da proposta, Tiago Barros Correia, a medida teria um impacto significativamente menor, de R$ 3,65 por MWh para todos os consumidores em janeiro - os custos vão variar mês a mês. Segundo ele, ainda que o novo rateio já valha para este mês, a proposta poderá sofrer alterações durante audiência pública. "Isso não significa um jogo de cartas marcadas. É possível que se recue, mas é melhor uma regra transitória e aí revermos essa norma, do que aplicarmos uma regra que certamente será revista", disse.
Opinião do especialista
Nordeste não pode pagar a conta sozinho
Considero, a princípio, uma boa medida, do ponto de vista que ela faz com que todos contribuam com os prejuízos do setor, e não somente de algumas regiões específicas do País. Hoje, tem empresas do Sul comprando energia do Nordeste, por exemplo. Todo mundo compra energia de todo mundo, no Brasil, então é prudente que o Nordeste não seja penalizado sozinho.
Como não houve leilão, as companhias estão comprando, para dar conta da demanda, energia do mercado spot, no mercado à vista, que é mais cara. Então, sairia muito pesado para os consumidores do Nordeste arcarem sozinhos com esse custo a mais.
Todavia, essa medida é somente para ratear as contas, mas não resolve a crise energética, e é preciso de ações que a amenizem. À medida que chega abril e o período chuvoso acaba, o setor vai tendo que racionalizar o consumo de energia. É preciso que haja racionamento. Até agora, choveu 50% do previsto para o período e, mesmo que chovesse 100%, isso não significa que encheria os reservatórios. Eles têm que durar até o próximo ano.
Tecnicamente, já deveria estar havendo um racionamento de 5% do consumo. Mas o governo vai tentar segurar até abril, quando as desilusões se acabam, e fará como em 2001, iniciará o racionamento.
João Mamede Filho
Consultor em energia

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/aneel-quer-nova-divisao-para-gasto-com-termicas-1.1207386

Nenhum comentário:

Postar um comentário