A
presidente da República defendeu que a corrupção seja transformada em crime
hediondo
Brasília.
Em resposta às manifestações populares que tomam conta das ruas do País, a
presidente Dilma Rousseff propôs ontem "cinco pactos em favor do Brasil"
a governadores e prefeitos. As medidas são nas áreas social, econômica e
política.
Para
o setor de transportes, a presidente da República anunciou R$ 50 bilhões para
investimentos em obras de mobilidade urbana. Ela cobrou maior transparência na
fixação dos preços das tarifas do transporte público.
FOTO: AGÊNCIA BRASIL
Na
fala inicial durante a reunião, a presidente disse que é preciso unir forças
para o combate e controle à inflação, uma das questões vêm diminuindo a
aprovação de seu governo.
Segundo
Dilma, a alta da inflação ainda é reflexo da crise financeira internacional.
"A responsabilidade fiscal para garantir estabilidade da economia e
garantir o controle da inflação. Essa é uma dimensão importante no momento
atual quando a crise castiga com volatilidade todas as nações", disse.
Em
seguida, a presidente propôs um plebiscito sobre a realização de uma
constituinte para uma ampla reforma política que "amplie a participação
popular e os horizontes da cidadania".
O
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador do Ceará, Cid Gomes,
foram os autores da ideia de convocar o plebiscito. No fim de semana, Dilma
passou em reuniões com ministros e voltou a telefonar para governadores
confirmando que faria a proposta.
Dilma
defendeu ainda que a corrupção seja transformada em crime hediondo e a
ampliação da Lei de Acesso a Informação. "Queremos dar prioridade ao
combate à corrupção de forma mais contundente. Nesse sentido, precisamos de uma
nova legislação que classifique a corrupção dolosa como crime hediondo",
disse a petista.
Mesmo
com a resistência da categoria, a presidente anunciou como um compromisso para
melhorar a saúde a importação de médicos estrangeiros para integrar o Sistema
Único de Saúde (SUS). De acordo com a presidente, as vagas serão oferecidas com
prioridade para médicos brasileiros. As que não forem preenchidas ficarão para
os estrangeiros.
"Sei
que vamos enfrentar um debate democrático. Gostaria de dizer à classe médica
que não trata de medida hostil ou desrespeitosa, mas temos dificuldades de
encontrar médico para trabalhar nas áreas mais remotas".
O
governo vai ampliar o número de vagas para formação de médicos e também o
número de residência. Serão mais de 11 mil vagas de graduação.
Para
o setor de transportes, ela anunciou R$ 50 bilhões para investimentos em obras
de mobilidade urbana. Dilma cobrou maior transparência na fixação dos preços
das tarifas. "O nosso pacto precisa assegurar também uma participação da
sociedade e maior transparência no cálculo das tarifas".
Royalties
Na
área educacional, a presidente cobrou do Congresso Nacional a aprovação do
projeto que destina 100% dos recursos de royalties e participação especial do
petróleo da camada pré-sal para a educação. Segundo o texto, 50% dos
rendimentos do fundo social do pré-sal também devem ser destinados para o
setor.
Manifestações
A
presidente fez uma avaliação sobre as manifestações e voltou a garantir que seu
governo ouve as ruas. "Nós também sabemos das incontáveis dificuldades para
resolvê-las. Eu mesma tenho enfrentado desde que assumi a Presidência inúmeras
barreiras. Junto com a população podemos resolver os problemas. Não há por que
ficarmos inertes, acomodados ou divididos".
"O
povo está agora nas ruas dizendo que as mudanças continuem. Que elas se
ampliem, que elas ocorram ainda mais rápido. Ele está nos dizendo que quer mais
cidadania. Quer uma cidadania plena. As ruas estão nos dizendo que o País quer
serviços públicos de qualidade, quer mecanismos mais eficientes de combate à
corrupção que assegurem o bom uso do dinheiro público. Querem uma representação
política permeável. O País deixou de ser governado apenas para 1/3 da
população. Passou a ser governado para todos os brasileiros".
Oposição
critica presidente
Brasília.
A oposição acusou ontem a presidente Dilma Rousseff de atropelar o Congresso
Nacional ao propor a realização de plebiscito para consultar a população sobre
a realização de uma constituinte exclusiva para discutir a reforma política no
País.
Para
Aécio Neves, a presidente Dilma transfere para o Congresso e aos estados e
municípios problemas que são de sua administração FOTO: AGÊNCIA SENADO
Com
críticas ao discurso de Dilma sobre os protestos que se espalham pelo País, os
presidentes do PSDB, DEM e MD (Mobilização Democrática) avaliam que a
presidente não deu respostas suficientes aos brasileiros que protestam por
melhores condições de vida.
"É
uma competência exclusiva do Congresso convocar plebiscito. Para desviar
atenção, ela transfere ao Congresso uma prerrogativa que já é do Legislativo e
não responde aos anseios da população", disse o presidente do PSDB,
senador Aécio Neves (MG). A oposição diz ser favorável à consulta popular sobre
a reforma política, mas discorda da convocação de Assembleia Constituinte
específica para discutir a reforma política.
"Nenhum
de nós é contra consulta popular, mas fazer plebiscito sobre o que o Congresso
precisa fazer? Não adianta querer entrar agora com manobra diversionista. A
reforma é importante, mas vamos cuidá-la com o devido amparo legal",
atacou o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).
Os
presidentes dos partidos de oposição avaliam que Dilma adotou um "discurso
velho" ao dialogar com os manifestantes, que têm uma nova forma de
protesto - além de ter "transferido" ao Congresso, governadores e
prefeitos problemas que são de sua administração. "A presidente esqueceu
que seu partido governa o País há mais de 10 anos, mas parece alguém que acabou
de assumir o mandato. Ela transfere ao Congresso essa responsabilidade e aos
Estados e municípios a competência para desonerar transporte público",
afirmou Aécio Neves.
O
presidente do MD, Roberto Freire (PE), disse que a presidente deveria orientar
sua base de apoio no Congresso a aprovar propostas que são de interesse da
população. "Por que o governo não orienta a sua maioria a derrotar a PEC
37? Por que não orientar a base a apoiar uma CPI para investigar as obras da
Copa?", questionou.
Em
defesa do plebiscito, aliados da presidente Dilma Rousseff afirmaram que a
única maneira de o Congresso aprovar a reforma política é com a realização de
Assembleia Constituinte específica para discussão do tema. "Se não tiver
um Congresso específico, a gente debruçado em tantos temas não vai conseguir
fazer isso", disse o líder do PT, senador Wellington Dias (PI).
A
Constituição estabelece como competência do Congresso a sugestão de plebiscito
ou consulta popular, assim como a aprovação de propostas que modificam a
Constituição - como no caso da reforma política.
Propostas
A
oposição divulgou um manifesto com propostas a serem adotadas pelo governo e
pelo Congresso em resposta às reivindicações da população. Intitulado de
"Os brasileiros querem um Brasil diferente", o manifesto assinado
pelos presidentes do DEM, PSDB e MD diz que a "agenda" proposta pela
oposição se contrapõe a "discursos vazios e reiteradas promessas não
cumpridas pelo governo federal".
Uma
das propostas é a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso
para investigar os gastos com a Copa do Mundo de 2014, além da realização de
auditoria nas despesas investidas pelo Executivo no mundial de futebol.
Os
partidos dividiram a "agenda" em três áreas, com propostas de
transparência e combate à corrupção, gestão e federação, e no campo ético e
democrático.
Entre
as propostas, estão a revogação imediata do decreto que proíbe a divulgação de
gastos da Presidência em viagens internacionais, a liberação do acesso aos
gastos do governo com cartões corporativos, a divulgação de custos de
financiamentos do BNDES, e a revelação dos negócios realizados pela Petrobras
nos últimos dez anos.
Também
há sugestões nas áreas de educação, saúde e segurança, a redução pela metade no
número de ministérios e adoção de política de "tolerância zero" com a
inflação.
Opiniões
"O
plebiscito é uma forma de motivar deputados e senadores a realizarem a reforma
política"
Marco
Aurélio Mello
Ministro
do STF
"Podemos
avançar nos temas postos. A pauta mudou e a Câmara não pode se omitir"
José
Guimarães
Deputado
federal e líder do PT
"Como
é que vai acalmar as ruas? Não respondeu às questões cruciais. É muito
marketing e pouca ação"
Rubens
Bueno
Deputado
e líder do PPS
MPL
diz que não ficou satisfeito com audiência
Brasília.
Integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) saíram da reunião com a presidente
Dilma Rousseff, ontem, classificando a Presidência de "despreparada"
para lidar com o tema do transporte público. "Não ficamos satisfeitos, foi
uma abertura de diálogo importante, mas vimos a Presidência despreparada. Não
apresentaram uma pauta concreta para mudar a realidade do transporte no
País", afirmou Marcelo Hotimsky.
Além
de Marcelo, outros três integrantes do movimento viajaram de São Paulo a
Brasília a convite da Presidência da República. O convite foi feito no sábado
passado diretamente pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral). Outros
dois integrantes do MPL do Distrito Federal participaram do encontro.
Dilma
não apresentou ao grupo as medidas que apresentaria na sequência, durante
encontro com os governadores e prefeitos. "Esperamos avanços concretos e
que a tarifa seja reduzida, continuamos na luta pela tarifa zero. A presidente
não se comprometeu com nada. Esperamos medidas concretas das três
esferas", disse Mayara Vivian.
Segundo
o movimento, ela se mostrou receptiva à PEC 90 (que lista o transporte como
direito social). "Ela falou que considera o transporte como um direito
social. É o que diz a PEC. Diálogo é um passo importante, mas sem passos
concretos não existe avanço", concluiu Mayara.
Copilado
do Diário do Nordeste
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