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terça-feira, 26 de março de 2013

VALE DO JAGUARIBE: Escultor supera alcoolismo com arte em Russas


O baiano chegou ao Ceará com a perspectiva de reconstruir uma vida nova, longe do vício que o tirou de sua terra natal

Russas. O artista é baiano, mas a sua arte nasceu no Ceará. Foi nas areias da praia de Canoa Quebrada que Elias Mendes encontrou refúgio e força de vontade para se recuperar do alcoolismo. Nasciam aí as mulheres de areia, que mais tarde se transformariam em grandes esculturas, admiradas principalmente pelo público cearense. Além de escultor e artista plástico, Elias ministra gratuitamente palestras motivacionais onde conta toda sua história de superação.Uma das peças mais trabalhosas, já produzidas por Elias Mendes, foi um gorila de mais de dois metros de altura e 500 quilos. 


A dificuldade foi o prazo curto de apenas 20 dias para entregar a encomenda feita por um cliente Foto: divulgação 

O mecânico chegou ao Ceará em 1993 somente com a perspectiva de reconstruir uma vida nova, longe do vício que o tirou de sua terra natal, em Jacobina na Bahia. No começo, Elias conta que foi difícil. Dormia pelas ruas de Aracati. Para sobreviver, procurou uma rádio local para arranjar algum emprego.

“Fui em busca de algo que me fizesse ocupar o tempo, para eu não ter que voltar a beber, então me ofereci para fazer qualquer coisa. Como eu cheguei a trabalhar como operador de rádio em Jacobina, eu consegui o emprego”, relembra. Além do sustento, o trabalho era para Elias o refúgio do mundo do alcoolismo, onde ele tinha consciência de que precisava superar, pois havia deixado um casal de filhos, ainda menores, na Bahia.

Em Aracati, Elias começou a frequentar a praia de Canoa Quebrada, onde sua arte foi nascendo espontaneamente. “Eu comecei a fazer mulheres de areia para passar o tempo e me manter com a mente ocupada. Só que foi surpresa para mim as pessoas pararem para me elogiar e elogiar o que eu estava fazendo, os donos de barracas começaram a me pagar para eu fazer a arte e assim atraiam pessoas até próximo às barracas, foi aí que eu despertei para a arte que eu mesmo desconhecia ter o dom”, conta emocionado.

Técnica aprimorada
Na mesma época, ele voltou para Bahia a pedido de um amigo para ajudá-lo em sua oficina. Em meio tempo, ele decidiu fazer esculturas, usando a habilidade que aprendeu fazendo mulheres de areia, só que agora com materiais como madeira e cimento. Ainda de forma não profissional, confeccionava as estatuetas e saia vendendo há um preço popular. Em seu retorno ao Ceará, ele passou a dedicar mais tempo às esculturas.

“Em uma das viagens que eu fazia para Bahia conheci minha esposa, Katiuscia. Ela é natural de Russas e com o tempo fomos morar na Bahia, casamos e, em 2003, vim morar em Russas com ela”, relembra.

No interior do Vale Jaguaribano, Elias viu sua arte ser reconhecida por várias pessoas. As peças passaram a ser confeccionadas por encomenda, com vários tamanhos, várias propostas e, a cada trabalho, um novo desafio.

Persistência
“Eu levei muito tempo para aprender a técnica que tenho hoje. Aprendi a fazer toda a estrutura de ferro da peça, como se fosse um esqueleto humano, tive a ajuda de um artesão em Aracati. Quando cheguei em Russas uma pessoa me disse que se eu fosse viver de arte eu morreria de fome, porque esse trabalho não dava dinheiro, mas eu insisti”, relata o artista. 

As matérias primas utilizadas por ele para produzir são areia, cimento e ferro, encontradas em qualquer loja de material de construção.
O escultor perdeu a conta de quantas peças já produziu. Os pedidos chegam de vários lugares. Em uma época ele atendeu a uma solicitação de um norueguês, que estava na Bahia, onde ele produziu um troll, personagem mítico daquele país.

No trajeto de Russas à Jacobina, Elias sempre se depara com um de seus trabalhos, a quem trata como filhos. Para ele, a obra é uma parte do autor, é um pedaço do sentimento materializado em um peça, que diz muito de quem o produz.

Maior desafio
Um dos maiores desafios foi produzir um gorila para o dono de uma pizzaria, a quem já vendeu mais de R$ 14 mil em peças. “A peça era para ser entregue no Réveillon, então eu só tive 20 dias. O trabalho para produzir uma peça dura em média dois meses, se for uma peça de grande porte. Esse foi o maior desafio pra mim”, afirma.

O gorila, assim como outras peças como dinossauros, águia, jacarés e garças, estão expostos na Guto’s Pizzaria e é uma das atrações do local. O gorila, sua obra mais recente, mede dois metros e pesa mais de 500kg e também esta exposta na pizzaria. Elias possui peças espalhadas na Bahia, Brasília, Ceará e em outros estados. O preço varia conforme o tamanho. 

Responsabilidade social
Além de artesão e artista plástico, Elias Mendes também dedica parte do seu tempo em ministrar palestras para escolas, ONG’s e associações, gratuitamente. Nesses encontros, ele reporta a própria história, falando dos riscos que as drogas trazem para a vida das pessoas e sobre as lições de superação que aprendeu. 

Recentemente, ele foi surpreendido pelo convite da prefeitura municipal de sua cidade natal para confeccionar duas estátuas gigantes para serem expostas na entrada da cidade. As peças representarão os índios Jacó e Bina, que dão origem ao nome do município.

Mais informações
Elias Mendes

Escultor e Artista Plástico

Vila Matoso, 940. Centro, Russas. (88) 9703-1418/ 9600-3285

Ellen Freitas

Colaboradora 

Compilado deste link

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1245192

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