A educação básica do Ceará
mostra que um mesmo Município tem bons e péssimos resultados.
Limoeiro do Norte. O Ceará
tem Municípios bons e ruins em educação, pelo menos no que se refere às séries
iniciais do ensino básico, segundo os últimos índices do setor. Mas quanto
maior o ano, pior o desempenho. Até se chegar no Ensino Médio, em que, além de
baixo desempenho nas notas, a evasão escolar é ainda maior. O Sistema
Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece-Alfa), divulgado na semana
passada, apontou melhora significativa na alfabetização na idade certa (177
Municípios).
Representa um aumento no desempenho do básico da educação: saber
ler e escrever. O Programa Alfabetização na Idade Certa conseguiu melhorar os
índices entre 2007 e 2011. Mas a segunda etapa do Ensino Fundamental ainda tem
graves problemas, conforme aponta pesquisa anterior do Ministério da Educação.
As escolas de Municípios com piores e melhores índices do Spaece mostram o que
mudou e o que é preciso mudar.
Numa pesquisa divulgada pelo
Governo Federal, 121 cidades cearenses (65,7%) não atingiram a meta
intermediária de aprendizagem no 5º e no 9º ano do Ensino Fundamental, conforme
o programa Todos Pela Educação. O dado foi divulgado pelo Ministério da
Educação uma semana antes do Spaece. Apenas 334 cidades brasileiras (6,3% do
total), atingiram essa meta, que avalia o aprendizado em Português e
Matemática. Já o 2º ano inicial, com demonstração de melhora pelo índice Spaece,
é comemorado pelo Estado.
Os levantamentos de
aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental têm feito, como não se
havia décadas atrás, uma amostragem de a quantas anda a educação pública. E na
lista dos dez mais e dos dez municípios com índices menos satisfatórios,
projetos educacionais de sucesso e outros nem tanto. E ao mesmo tempo uma
descontinuidade, num mesmo Município, nos níveis de aprendizado. Em miúdos:
cidade com ótimo desempenho em índice anterior fracassando na última avaliação,
para o mesmo ano do Ensino Fundamental. E numa mesma cidade onde se encontra um
dos melhores desempenhos do 2º ano figura entre os de avaliação baixa no 5º ano.
Parambu já pontuou como melhor, de todos do Sertão dos Inhamuns, no índice que
hoje aponta-o como o pior desempenho do Estado na avaliação do 2º ano do Ensino
Fundamental. Já Ibaretama, o bom índice do 2º ano contrasta com o pior
desempenho estadual no 5º ano do Ensino Fundamental.
Dos 184 Municípios
cearenses, 177 chegaram ao nível desejável de alfabetização. Entre 2007 e 2011
dobrou o percentual de crianças alfabetizadas ao final do 2º ano. Com dados do
2º do Ensino Fundamental, caiu também a taxa de alunos com baixo índice de
aprendizado (de 47,7% em 2007 e 8,8% em 2011). Houve melhora também no 5º ano,
mas que não esconde o problema maior: apenas 12 Municípios alcançaram o nível
satisfatório de aprendizado de Português e Matemática.
Os números do Spaece causam
euforia e decepção. Como não existe punição aos gestores das cidades com baixo
desempenho, resta "sensibilizar", conforme a Secretaria de Educação
do Estado (Seduc). Mas esse mesmo órgão contemplou, por dois anos consecutivos,
a Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Rodrigues de Medeiros, em
São Benedito, com o Prêmio Escola Nota 10. A "escola-referência" é
uma casa improvisada em escola. A Seduc informou que o que conta é o
"quesito aprendizagem". "A escola pode ter péssima infraestrutura
e realizar excelente trabalho pedagógico", diz Márcia Campos, coordenadora
de Educação na Seduc.
Nova Olinda Este Município,
no Cariri, comemora os índices alcançados na Educação. A surpresa foi chegar ao
topo, com os melhores níveis de aproveitamento, com a nota máxima dos alunos do
2º ano. A média do nível de proficiência ajustada foi de 282,4. Por trás desse
trabalho há uma longa história de esforço, capacitações, formação de
professores, ajustes relacionados à idade e escolaridade, investimentos
salariais dos docentes, incentivo, com gratificações, e infraestrutura, entre
outros fatores, que envolvem até a integração das unidades de ensino com a
comunidade. O Prêmio Escola Nota 10 foi a resposta.
Agora, segundo a secretária
de Educação, Vanda Lúcia Sampaio Oliveira, fica o desafio de manter os índices
e continuar o processo de aperfeiçoamento, que veio às custas de muito
trabalho. Os índices que um dia de 2005 se tornaram vergonhosos para a cidade,
foram responsáveis pela mudança de atitude dos educadores e comprometimento do
poder público em transformar a realidade.
Isso aconteceu com a Escola
de Ensino Fundamental José Liberalino da Silva, localizada na Vila Alta, um dos
bairros mais carentes da pequena Nova Olinda, de pouco mais de 11 mil
habitantes. Mas o bom desempenho é comemorado nas nove escolas do Município e
mais de 3 mil alunos. No Sítio Tabuleiro, zona rural de Nova Olinda, o 5º ano
da Escola 15 de Novembro obteve nota 10, o melhor desempenho desta série na
área de 18ª Coordenaria Regional de Educação (Crede-18). Já na Escola de Ensino
Fundamental Alvin Alves, no Sítio Zabelê, o 2º ano obteve também nota 10.
Os alunos avaliados durante
o ano passado estão agora no terceiro ano, no caso da José Liberalino. Foi
aprovação em praticamente 100% da turma, com índices de aproveitamento
admiráveis para crianças que vivem em condições sociais e necessitam de um
acompanhamento aproximado. A coordenação da escola tem buscado um processo
integrado e esse trabalho educacional passa pela família, a exemplo de um dos
projetos que a escola tem feito de forma pioneira e vem servindo de espelho
para outras unidades. É o ´Palavra Mágica´. A metodologia simples faz com que o
lúdico entre nas casas com palavras de gentileza, como o ´bom dia´, ´com
licença´, e outras formas de tratamento sejam naturalizadas pelas crianças e
mude o relacionamento social. Os resultados já estão na boca das crianças.
Segundo a secretária, esse
desenvolvimento educacional não aconteceu num passe de mágica, e sim, dependeu
de um trabalho sério e de muita responsabilidade feito ao longo de um tempo. Na
primeira avaliação de 2007 do Sistema Permanente de Avaliação da Educação
Básica do Ceará (Spaece), a média de Nova Olinda foi uma das piores, de 92.3.
"Isso nos fez refletir, porque o Município era um dos piores do Estado, em
que os meninos frequentavam a escola e não aprendiam nada. Era um quadro
lamentável", afirma. De acordo com a secretária, as prioridades começaram
a ser trabalhadas, mas antes de tudo foi determinante a vontade política para
mudar o quadro.
A educação municipal elegeu
quatro pontos fundamentais para modificar a situação: o reordenamento da rede
pedagógica; a nucleação, com escolas em espaços mais adequados; além da
graduação dos professores, com a presença das universidades dentro do
Município. "Não temos mais professores sem a graduação, ou têm aqueles que
estão concluindo para fechar toda a rede dos professores do Município",
diz ela, ao acrescentar que foram várias ações que fizeram a educação do
Município chegar aos melhores resultados.
Aperfeiçoamento
O professor Francisco Hugo
Dantas Leonel Alves está com a turma do 3º ano. O grupo passou pelo exame do
Spaece e obteve a maior nota do Estado, ano passado. O docente destaca a meta
de aperfeiçoamento constante na sala de aula, no processo de aprendizagem.
"A gente trabalha com metas e muitas delas ficam afixadas no mural da sala
de aula". Ele destaca a importância de deixar o aluno sabendo ler e
escrever bem. "Esse prêmio é um incentivo para toda a comunidade
escolar". O estudante Cícero Caliel Bezerra do Nascimento, de 8 anos, mora
na Vila Alta. Ele afirma que sempre gostou de estudar e a escola é um bom
espaço na comunidade.
REPÓRTER
MELQUÍADES JÚNIOR/ELIZÂNGELA
SANTOS
Copilado do Diário do
Nordeste
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