Com a seca, a pecuária
amarga prejuízos e aguarda com expectativa ações de apoio aos rebanhos. Crateús
Cerca de 80 mil produtores no Ceará serão beneficiados com o milho da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) até o final do ano, segundo estimativa da
superintendência do órgão no Estado. A distribuição inicia no próximo dia 5,
nos oito escritórios espalhados em todas as regiões do Estado.
Uma portaria
interministerial publicada no Diário Oficial da União (DOU) da última
sexta-feira, define os critérios para a liberação de milho em grãos para
produtores atingidos pela estiagem. A seca registrada em diversos Municípios
neste ano provocou a perda de produtos agrícolas e agropecuários de milhares de
famílias.
A medida deve beneficiar
produtores inscritos no Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) de
regiões em Estado de Calamidade - por causa da estiagem e produtores em geral.
Por este motivo, o texto da
Portaria 470/2012 define que os produtores familiares e cooperativas de gado de
leite e corte, aves, suínos, caprinos e ovinos de áreas correspondentes à
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) podem adquirir milho
com preço subsidiado para alimentar os animais. De acordo com a portaria, cada
produtor pode adquirir até três toneladas de milho e as cooperativas até três
mil toneladas do produto, pelo preço de R$ 18,10 a saca de 60 quilos. Antes o
valor chegava a R$ 33,00.
Os produtores cadastrados
podem participar da operação de venda em balcão de 400 mil toneladas de milho
dos estoques oficiais da Conab. E os produtores que ainda não estão cadastrados
podem procurar os escritórios no Estado e efetuar seu cadastro. São necessários
os seguintes documentos: declaração do ITR, CPF, RG e ficha sanitária dos
animais. Para os produtores inscritos no Pronaf, também a apresentação da
Declaração de Aptidão ao Programa (DAP).
Os caminhões estão chegando
com o produto em todos os escritórios do Estado, segundo a superintendência da
Conab, e a distribuição iniciará nos primeiros dias do mês, a fim de socorrer o
produtor, que enfrenta a maior seca dos últimos 30 anos. O órgão, garante que
não haverá desabastecimento, pois os estoques estão garantidos. "Este ano
houve a maior safra de milho da história do País e temos armazenado nas regiões
do Centro-Sul do País produtos suficientes para suprir a demanda até o final do
ano", garante Jorge Fonteles, assistente da Superintendência da Conab no
Ceará.
Inhamuns
Nesta região, uma das mais
afetadas pela seca no Estado, o calendário de atendimento da Conab aos mais de
6 mil produtores prioriza o Município de Independência, em que a situação de
calamidade é mais crítica. Será nos dias 5, 6 e 7 de junho. Nos dias 8, 9 e 10
será a vez de Crateús. Em Novo Oriente nos dias 16, 17 e 18. Após essa data,
serão beneficiados os produtores dos demais 15 Municípios atendidos pelo
escritório localizado em Crateús. Em Tauá, que faz parte desse escritório, o
armazém também já está estocando milho para a distribuição nos Municípios
próximos.
O armazém já está sendo
preparado para atender à demanda e ofertar continuadamente o produto. Conta com
500 toneladas em estoque e continua recebendo o produto. A expectativa é que
até o dia 5, quando começa a distribuição para os produtores de Independência,
o armazém esteja com um nível bem elevado de milho. Da mesma forma, está
ocorrendo em Tauá.
"Estamos recebendo
milho diariamente, com a chegada dos caminhões. Daí o calendário com início
para o dia 5 a fim de que o armazém esteja com grande estoque e não falte milho
para os produtores. Sabemos da situação lamentável que passa o produtor, devido
à falta de pasto para alimentar os animais", destaca Josemar Martins,
gerente do escritório de Crateús. Segundo garante, o estoque estará pronto para
atender os 18 Municípios dessa região do Estado.
Atravessador
A limitação de 50 sacos por
produtor dificulta a ação dos atravessadores, segundo o gerente. Ele avalia
ainda que, dessa forma, a Conab cumpre as suas metas junto ao produtor. "A
nossa meta é atender o pequeno produtor, que é justamente esse que compra por
mês em torno de 15 sacos para alimentar o seu rebanho", pontua.
Gonçalo Soares, do Sítio
Araras, no Município de Ipaporanga, esboça um sorriso animado ao efetuar o seu
cadastro no órgão, em Crateús. Plantou duas vezes este ano, nos meses de
janeiro e fevereiro em seus 4 hectares de terra. Ao contrário dos anos de bom
inverno, em que colhe o suficiente para alimentar suas poucas cabeças de gado,
este ano diz que sua produção não chega a dois sacos de milho. "Com a
baixa no preço, fiquei mais animado. Pelo menos vai dar para comprar uns dez
sacos por mês e segurar o gado", diz.
Mais informações:
Conab - Superintendência
Ceará - Rua Antônio Pompeu, 555- José Bonifácio - Fortaleza, CE - Tel..: (85)
3252-1722 - Escritório de Crateús - Av. Sargento Hermínio, 1071 - tel (88)
3691.0095
SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER
Gado de alta linhagem vai
para o abate
Canindé Enquanto a
burocracia está sendo superada para viabilizar as ações de apoio aos produtores
rurais afetados pela seca no Estado, a fome e a sede avançam deixando rastros
de calamidade. Os Municípios que fazem parte dos Sertões de Canindé e Vale do Curu
estão entre os que mais sofrem no Interior com a falta de água. A escassez
afeta a população das comunidades rurais na pecuária, na agricultura e no
consumo do recurso potável. A criação de animais é um dos setores mais
atingidos. Nos Sertões de Canindé muitos criadores de gado estão
vendendo o que resta da maior seca dos últimos 30 anos para não ver os animais
morrerem de fome e de sede. A cena é comum em muitas propriedades. Todos os
dias chegam ao Matadouro Público da cidade de Canindé animais de alta linhagem,
principalmente fêmeas e machos que foram comprados para reprodução, e
consequentemente aumentarem a criação nas fazendas. Mas agora seus donos não
querem ver seus animais se tornarem comida para urubus. O gado que deveria ser
para melhorar o rebanho está servindo para o fornecimento de carne.
O criador Antônio José
Honório da Silva, residente na Comunidade de Suíça, está vendendo seu rebanho a
preço irrisório. "A coisa está ficando insustentável. Não tenho mais como
manter os animais. Falta pasto e água. A única alternativa viável é vender e
nada mais", lamenta o pecuarista, com os olhos cheios de lágrimas.
Segundo ele, uma vaca que
custa R$ 3.200,00, mas os compradores só pagam R$ 900,00. "É triste ter
que fazer isso, mas é o jeito. Melhor agir assim´´, lamenta. Na cidade de
Tejuçuoca, animais também são afetados com a seca. Na localidade de Boa Ação,
há gado em situação crítica. "Ou os governos Federal e do Estado tomam
medidas urgentes ou vai morrer tudo de fome e sede", prevê o criador Osmar
Ferreira da Silva, que ainda insiste em manter cinco vacas. Os animais já estão
só "o couro e o osso", constata.
"É preciso alguém olhar
com mais atenção para esses problemas que estão tomando dimensões assustadoras
porque, caso contrário, só vai escapar de quatro pés cadeiras e mesas",
avisa seu Osmar. Ele ainda não vendeu seus animais porque não tem mais quem
queira comprar. "Isso aí agora vai servir de comida para os urubus",
diz, apontando para o gado no curral.
O problema da seca no sertão
nordestino é muito antigo. O primeiro registro do flagelo ocorreu em 1559.
Pesquisas confirmam que a irregularidade climática no semiárido é própria da
região. A seca no Nordeste brasileiro equivale à neve nos países europeus,
enquanto um fenômeno da natureza. Porém, as populações do semiárido ainda não
aprenderam a conviver com estas irregularidades.
"A seca já deixa um
rastro de prejuízos milionários, com o abate e venda anormais de rebanhos
bovinos, queda na produção de leite e queijo´´, lamenta o gerente do Centro de
Atendimento ao Cliente da Ematerce, em Canindé, Domingos Sávio.
Mais informações
Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ceará
(Ematerce) Escritório em
Canindé
Rua Paula Uchoa, S/N
Telefone: (85) 3343.0051
ANTÔNIO CARLOS ALVES
COLABORADOR
Copilado do Diário do
Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário