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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Em Fortaleza. Inventário Turístico deve nortear ações


Bismarck Maia disse que os espaços culturais têm sido qualificados, como o Theatro José de Alencar. "Fora isso, temos feito uma boa disseminação cultural, o que leva a população a consumir esses produtos. Além disso, temos melhorado as estruturas públicas, como as ruas, saneamento e preservado os patrimônios naturais e culturais", disse. Bismarck informou que hoje a sazonalidade turística da cidade acabou, e justifica com a ocupação hoteleira. "Nós vivemos três vezes por ano em altíssima estação e durante nove meses os hotéis ficam ocupados por pessoas que estão a negócios".


Até março, devem ser capacitados 3,4 mil profissionais de turismo, incluindo garçons e camareiras Leia mais
O Ceará já é um destino consolidado turisticamente no País e no mundo. A capital, Fortaleza, é a quinta metrópole brasileira, com 2.452 milhões de habitantes, e convive com seus contrastes.  A mesma cidade conhecida pelas belas praias, de vida noturna agitadíssima e que atraí um turismo de negócios de altas cifras, convive com a insegurança e afasta o cearense do espaço público e da convivência com o diferente.

O transporte público só existe até determinada hora, impedindo o acesso dos usuários a determinados equipamento e serviços. Em meio a esse cenário, mudanças se fazem necessárias, principalmente com a proximidade dos jogos das Copas das Confederações e do Mundo. Para procurar identificar e solucionar tais problemas está sendo concluído o Inventário Turístico da Cidade.

A secretária de turismo de Fortaleza, Patrícia Aguiar, diz que, apesar das dificuldades, ainda existentes, muita coisa avançou, no que se refere à hospitalidade. "Fortaleza se consolidou como destino, e hoje é objeto de desejo do turista brasileiro. É primeiro lugar no Nordeste em preferência na melhor idade", explica.

Segundo ela, o grupo integrante do conselho do turismo já vem conversando com trade sobre as carências de serviços da cidade. "O debate tem sido franco e aberto, dialogamos com todos os órgãos. Por isso acredito que, com a conclusão do inventário, prevista ainda para esse semestre, teremos um objeto de estudo e avaliação que nos mostrará para onde deve caminhar", explicou.

Sobre a carência dos serviços 24 horas e se Fortaleza terá capacidade de atender a uma demanda acostumada com esses serviços durante a Copa do Mundo de 2014, ela acredita que sim.

"Já qualificamos seis mil profissionais, e, até março, devemos inserir aí mais 3,4 mil. Esses, são profissionais das barracas, mercados, hotéis, taxistas, entre outros que compõem essa rede".

Ela diz também, que com a conclusão do inventário, será possível distribuir melhor esses serviços 24 horas pelas regiões mais necessitadas. Porém, admite que ainda há muito o que se avançar, principalmente no sentido de acesso, no caso mobilidade urbana, segurança e ampliação dos serviços dentro da Capital do Estado.

"Temos investido fortemente na infraestrutura da cidade, capacitação de profissionais, além disso, o legado que deixaremos como a reestruturação de toda a orla será para toda a população fortalezense e não só para o turista", disse. "Nós temos um povo hospitaleiro, acolhedor e uma cidade aberta, com opções vastas de gastronomia e hotelaria, o que contribui para esse avanço". A secretária acrescentou que várias praças estão sendo reformadas, e com isso pretende-se agregara o sentimento de pertencimento do cidadão por esses locais.

Centro
"O Centro é um lugar singular, diferente de alguns anos, que não se tinha nenhuma programação cultural por lá. Hoje, temos o Passeio Público, que tem programação nos fins de semana, e quem frequenta é cidadão fortalezense", disse Patrícia.

Ela diz que a intenção é ter um centro com movimentação diuturna. "Vejo com muito otimismo, em um horizonte muito próximo, a total revitalização do Centro. Principalmente porque estamos quebrando a sazonalidade da cidade. E centro não irá mais ter sensação de vazio", explicou a secretária.

Já o secretário estadual de turismo, Bismarck Maia, acrescenta que, para isso, os espaços culturais têm sido qualificados, como o Theatro José de Alencar. "Fora isso, temos feito uma boa disseminação cultural, o que leva a população a consumir esses produtos. Além disso, temos melhorado as estruturas públicas, como as ruas, saneamento e preservado os patrimônios naturais e culturais", disse.

Ocupação
Bismarck informou que hoje a sazonalidade turística da cidade acabou, e justifica com a ocupação hoteleira. "Nós vivemos três vezes por ano em altíssima estação e durante nove meses os hotéis ficam ocupados por pessoas que estão a negócios".

Quanto ao turismo de negócios, ele explica que os hotéis tinham seu faturamento, entre 90 % ou 95%, na hospedagem de leitos para o turismo de passeio. Hoje, 40% a 50% é em cima dos eventos".

"Nossa preocupação é melhorar os serviços que agreguem valor, pois só ter boa praia e gastronomia não tem como avançar. Nosso foco é na gerência, e a grande a alavanca é do setor privado, que também deve estar antenado com as melhorias a serem feitas no seu setor e assim melhorar a qualidade do serviço prestado", acrescentou.

Transporte
Para ele o transporte, não só na Capital, mas como em todo o País sofre um atraso de pelo menos 30 anos. Porém, acredita que, daqui para os grandes eventos, como as duas Copas, esses serviços já estejam disponíveis de uma forma linear.

Sobre a carência de transporte durante o período da madrugada na Capital, a diretora técnica da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Kalina Barros, informou que esse déficit não existe.

Ela destacou que hoje, a cidade possui 22 linhas de corujão, que funcionam de meia-noite às 4h30 da madrugada, além das 247 linhas normais das 4 horas à meia-noite. Sobre o período da Copa, explicou que já existe planejamento para ampliação no número de linhas.

A Fortaleza pensada para o cidadão
A segregação social ergue muros de separações visíveis e invisíveis que promovem a marginalização. Em Fortaleza esta separação está muito presente, sabe-se claramente a que classe você pertence, de acordo com o bairro em que mora, se anda de carro, de transporte público, bicicleta, ou a pé, ou se frequenta lugares "misturados".

"Misturado"
Todo Fortalezense já deve ter ouvido falar disso. Tal lugar não serve mais, pois agora está muito misturado. Foi o que aconteceu com a Praia de Iracema, que fez com que se tornasse cada vez mais marginalizada.

Uma cidade que não é pensada para o cidadão que nela habita, não pode ser um bom lugar para se viver. Para o educador Enrico Costa, a cidade tem que existir para o cidadão, "caso contrário a visão que tenho é que ela é uma grande vitrine". Para ele a única justificativa plausível para a concentração de serviços em determinadas partes da cidade é a má distribuição das riquezas.

"Quem não tem uma condição financeira para consumir, não vive nenhuma experiência dentro da cidade. Isso no sentido de usufruir dos bares e restaurantes, de ter acesso, por meio do transporte, aos centros culturais. Ele até pode chegar, mas como vai voltar para casa, caso não tenha o dinheiro do táxi"?

Costa explica, que os gestores têm que entender que o turista quer se misturar, quer viver a cidade. Por isso qualquer capital tem que se preparar para o cidadão. "Hoje, os serviços 24 horas não existem não é porque não exista essa vontade. Ela até existe, mas são poucos os que têm a possibilidade de consumir, seja pelo acesso ou pelas condições financeiras".

Sobre a realidade dos transportes, ele cita a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), na Via Expressa, como algo fora da necessidade do fortalezense.

"Esse equipamento servirá para transportar, em sua maioria, os turistas que saem do aeroporto e destinam-se para área hoteleira da cidade. Enquanto isso, a cidade se aperta dentro de ônibus. Fora a quantidade de pessoas que vão ser desalojadas e que tinham sua moradia ali durante muitos anos", explica.

Para se ter uma ideia da situação, hoje existe plano de mobilidade para as questões da copa, mas até agora a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, não sabe mensurar quais as carências de serviços 24 horas dentro da Capital, ou seja, a questão também implica interesse dos proprietários dessas lojas e restaurantes.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O que torna uma cidade viva?
Gislene Macêdo
Professora Adjunta da UFC/ Sobral/ Psicologia
O movimento nas ruas, as pessoas e suas teias de ligação como trabalho, habitação, saúde, educação e cultura colorem o espaço urbano. Foi curioso ver as pessoas ocupando as ruas de Fortaleza ao longo do carnaval 2012.

Muita alegria e ao mesmo tempo muita tranquilidade. As ruas não mais ameaçavam. Os estranhos ao redor nos pareciam confiáveis na ocupação do espaço de folia e diversão. A cidade poderia ser assim todos os dias. E por que não é?

As conexões entre bairros e acontecimentos do cotidiano, passados determinados horários e mesmo aos fins de semana, se tornam inacessíveis a uma boa parcela da população. Nos bairros mais abastados os serviços 24 horas, iluminação, equipamentos de arte e cultura se tornam mais disponíveis. Ainda há uma grande concentração de serviços de toda espécie em poucas áreas da cidade. Para que as distancias sejam diminuídas, há de se ir além do atendimento de uma certa demanda objetiva de locomoção.

O incentivo amplo ao uso do transporte público, espaços concretos e dignos para os transportes não motorizados e para as viagens à pé e em cadeiras de roda, colocariam a mobilidade como humana e não restrita aos deslocamentos cotidianos em função do mundo produtivo. Ir ao cinema à noite para quem mora no Conjunto Ceará, por exemplo, não precisaria gerar uma estratégia cronometrada em função do rareamento de transporte público após as 23horas.

Muito se fala da quantidade de pessoas que escolhem o automóvel para seus momentos de diversão à noite e a punição para beber e dirigir são altas.

Está certo. A mistura é mesmo delicada. Mas que outras formas de mobilidade são ofertadas à população nos horários fora de pico? Então a população assiste (digo assiste porque não têm, de fato, participado das decisões que lhe afetam) às direções e intervenções urbanas em preparação para a Copa do Mundo de 2014, túneis, alargamento de vias, VLT, Transfor, Metrofor e a pergunta que não quer calar é: E os que aqui moram, habitam, vivem? Por que todas essas medidas e estratégias não têm caminhado junto com as melhorias das condições de vida da população como um todo (e não apenas para uma parte dela)? Os que saem do trabalho às 18 horas, por exemplo, e ainda precisam passar no supermercado de ônibus antes de chegar em casa, como é que fazem?

Vai melhorar o cotidiano delas? Cidade viva é lugar onde a vida se movimenta em luz, cor e gente. Mobilidade precária ou "para inglês ver", coloca a cidade como um produto turístico, mas não necessariamente um lugar bom para os seus.

Link da matéria: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1108370

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